Personagem marcante fez Selton Mello “descobrir” o humor

Até interpretar o sonso Chicó, de O Auto da Compadecida, Selton Mello não acreditava que soubesse fazer humor. O ator atribui ao diretor Guel Arraes a “descoberta” da comédia em sua carreira. Se foi assim, o “mestre” ensinou a lição direitinho. Afinal, de lá para cá, Selton estrelou A Invenção do Brasil e Lisbela e o Prisioneiro, do próprio Guel, participou da terceira temporada do seriado Os Normais e volta à tevê, na próxima sexta-feira, em outro papel cômico.

Ele vive Tales, o chefe da repartição pública sem qualquer utilidade onde se desenrola a ação de Os Aspones, escrito por Alexandre Machado e Fernanda Young, os mesmos de Os Normais. “Depois que percebi que posso fazer comédia, me sinto muito à vontade em trabalhos de humor. E eles foram pintando naturalmente”, minimiza Selton, em seu tom habitualmente tranqüilo.

O fato de já ter trabalhado com os autores do seriado acabou dando a Selton a oportunidade de experimentar algo totalmente novo na tevê. Quando começaram a imaginar os personagens, Alexandre e Fernanda se reuniram com o ator para criarem juntos o “esquisitaço” Tales, que, na definição de Selton, tem “hábitos estranhos e pensamentos peculiares”. “Quando fui gravar, era só colocar a roupa e fazer, porque eu já sabia qual era a do personagem”, valoriza, entusiasmado.

Mas este não é o único privilégio que o ator, de apenas 31 anos, conquistou em 22 anos de carreira. Ele se orgulha ao dizer que escolhe cada um dos trabalhos de que participa. Prefere não ter contrato com a Globo, para poder fazer teatro e cinema quando bem entender. E, há pouco, recebeu o prêmio Qualidade Brasil 2004 pelo programa Tarja Preta, dirigido e apresentado por ele no Canal Brasil. “Juntei todos os meus amigos, editei o programa na minha casa e tive total liberdade para fazer o que quisesse”, ressalta Selton, que acaba de dirigir também um clipe do grupo Ira! e pretende seguir carreira como diretor. “Vocês ainda vão ouvir falar muito em mim dirigindo”, avisa, com um largo sorriso de satisfação.

Longa trajetória

Poucos atores podem contar 22 anos de carreira com apenas um pouco mais de 30 de idade. Aos 10, Selton Mello fez sua primeira aparição na tevê, uma participação no programa Dona Santa, estrelado por Nair Bello na Band. Dois anos depois, estreava nas novelas em Braço de Ferro, na mesma emissora, e em 1983 fez seu primeiro trabalho na Globo, Corpo a Corpo. Durante a adolescência, quando os convites para a tevê deixaram de aparecer, ele começou a se dedicar ao teatro, onde já atuou como produtor e diretor. Foi no teatro também que Selton teve as únicas oportunidades de contracenar com o irmão, Danton Mello, que, como ele, começou na carreira ainda criança. “A gente tem a maior afinidade, mas nunca ninguém teve a idéia brilhante de chamar a gente para fazer irmãos numa novela”, brinca Selton, entre risos.

Hoje, o ator faz questão de se dividir entre cinema, teatro e tevê. Nos últimos anos, protagonizou Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, e Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes. Recentemente, terminou de rodar O Coronel e o Lobisomem, dirigido por Maurício Farias, e já se prepara para filmar Federal, primeiro longa de Erik de Castro, no ano que vem. “Sou cria da tevê, mas me aperfeiçoei no teatro e o cinema é uma paixão”, enumera Selton, que elege dois de seus personagens na tevê como os mais marcantes: João da Ega, de Os Maias, e, principalmente, Emanuel, de A Indomada. “Foi meu primeiro papel importante, quando as pessoas perceberam que tinha um ator ali”, justifica. Em sua galeria de tipos, há espaço mais que especial também para o Chicó, de O Auto da Compadecida, que nasceu na tevê e acabou ganhando a telona. “O Auto foi uma bênção na minha carreira e na do Matheus Nachtergaele. As pessoas têm um carinho pelos personagens que parece eterno”, surpreende-se.

Trajetória televisiva

Dona Santa, Band, 1981.

Braço de Ferro, Band, 1983.

Corpo a Corpo, Globo, 1984 – Ronaldo Pelegrini.

Sinhá Moça, Globo, 1986 – Rafael.

Pedra sobre Pedra, Globo, 1992 – Bruno.

Olho no Olho, Globo, 1993 – Juca.

Tropicaliente, Globo, 1994 – Vítor.

A Próxima Vítima, Globo, 1995 – Tonico Mestieri.

A Indomada, Globo, 1997 – Emanuel Faruk.

O Auto da Compadecida, Globo, 1999 – Chicó.

Força de um Desejo, Globo, 1999 – Abelardo Sobral.

A Invenção do Brasil, Globo, 2000 – Diogo Alvarez

(Caramuru).

Os Maias, Globo, 2001 – João da Ega.

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