Percussão de casa nova

O PercPan (Panorama Percussivo Mundial), que completou esta semana uma década de existência, a partir do ano que vem, muda de tambor e cuia para o Rio de Janeiro. Perdem os baianos, ganham os cariocas. O festival, com direção artística de Marcos Suzano, é reconhecido internacionalmente como um dos eventos mais importantes da percussão e traz anualmente ao Brasil alguns dos maiores nomes do instrumento que, como definiu certa vez Naná Vasconcelos, “une os tambores do norte do Pólo Sul ao sul do Pólo Norte”. Só como exemplo, já passaram pelas edições anteriores músicos da Indonésia, Turquia, Estados Unidos, Japão e de muitos países africanos, incluindo Burundi e Congo. Este ano, numa edição um pouco mais tímida (em Salvador e no Rio de Janeiro), estiveram os ícones do “reggae de raiz” Sly e Robbie e uma autêntica orquestra de salsa de Cuba com Orlando Maraca Vale.

Mas não é só de atrações internacionais que vive o PercPan. Pelo contrário. Inúmeros músicos brasileiros já fizeram bonito nos dez anos de festival. O mais importante é que a filosofia do evento não contempla apenas os instrumentistas mais famosos. E excelentes surpresas acontecem, como a participação do grupo baiano Zambiapunga (tocando em pás de enxada e conchas de caramujo) ou as ceguinhas de Campina Grande e, até mesmo, um encontro inesquecível entre Egberto Gismonti e os índios do Xingu. No décimo aniversário, inclusive, uma das boas surpresas foi o músico Tato Taborda e sua instalação musical, a “Geralda”, que deixou o público baiano boquiaberto.

Gilberto Gil, que durante sete anos foi diretor artístico do festival (seis deles ao lado de Naná Vasconcelos), se afastou do cargo por conta de ter assumido a pasta da Cultura no governo Lula. De qualquer forma, esteve presente (e foi homenageado) na edição baiana e carioca do décimo Percpan. Nas duas, lembrou a importância do evento, que comparou a um “menino crescidinho”. De fato, quando, em 1994, o músico paranaense Arrigo Barnabé dirigiu em Salvador a primeira edição do festival, não devia passar pela cabeça dele a dimensão e a longevidade que o evento iria alcançar.

A idealizadora do festival, a socióloga Elizabeth Cayres, considerou uma grande vitória chegar ao décimo PercPan. “Afinal, nesses dez anos de atividades, o festival nunca pôde contar com a chancela de uma empresa privada. Precisamos sempre buscar apoio de fundações e empresas estatais, o que nunca foi fácil”, observa a produtora. Sem opções, apesar de ter insistido durante dez anos, ela muda novamente a sede do Percpan e em 2004 o Rio terá a privilégio de se tornar a cidade anfitriã do festival. E, para a próxima edição, ainda sem data definida (provavelmente no mês de abril), as atrações já estão sendo sondadas, entre elas a percussionista escocesa Evelyn Glennie, que tem deficiência auditiva e toca pelas vibrações sonoras que seu corpo , e a volta dos ótimos instrumentistas do grupo africano Tambores do Burundi.

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