Pellegrini fala sobre a voz e comenta sobre academia

O escritor paranaense Domingos Pellegrini esteve ontem na Biblioteca Pública do Paraná, onde realizou a palestra Luz da Voz. Segundo ele, a maioria das pessoas não sabe usar o instrumento a seu favor, seja no trabalho ou até mesmo com a própria família. Mas existem certas técnicas que podem ajudar no dia-a-dia. Cerca de quatro mil pessoas já assistiram a palestra desde 2000.

A prova real de que muitos profissionais não sabem usar a voz são as estatísticas. Elas mostram que 70% dos professores da rede estadual tem algum problema na voz. “O curso de magistério não ensina como se deve falar”, comenta Pellegrini. Mas além das alterações vogais, os educadores correm também o risco de ministrar suas aulas com uma cara enfadonha. “Como declamar um poema sem alterar a voz. Não pode faltar emoção”, diz. No entanto muitos educadores têm medo de cair no ridículo perante os alunos.

Outros profissionais que devem saber empregar bem a voz são os vendedores. Pellegrini explica que se você quiser convencer alguém de que algo é bom, precisa mostrar segurança e entusiasmo enquanto fala. Por outro lado, essa tática pode atrapalhar em outras ocasiões. Uma voz baixa, com tom submisso, pode conseguir melhores resultados. “Se o vendedor e o seu interlocutor tiverem uma voz firme, corre-se o risco de os caírem em disputa. Assim é melhor adotar um tom submisso, aumentando as chances da venda”, diz.

Mas não é só no meio profissional que a voz deve ser bem empregada. Dentro de casa, o bom uso da ferramenta pode melhorar o relacionamento familiar. Pellegrini fala que um pai que quer conversar com o filho usuário de drogas, não vai conseguir nada se empregar na voz um tom voz inquisidor. É preciso ser brando, perguntar as coisas com calma e convidá-lo a sair da situação. “Nunca aconselhando, julgando ou excluindo”, compara.

Ainda não existe literatura no País que trate do assunto. O escritor adquiriu a experiência em seus trabalhos no teatro, magistério, marketing, publicidade e outras atividades. Ele explica que, para uma pessoa ter sucesso nesta área precisa estar atenta a três pontos chaves. Um deles é o momento apropriado para a conversa. O outro é o ambiente, que pode exigir mais ou menos esforço vocal e, por último, o objetivo. Segundo Pellegrini, qualquer pessoa pode aprender a tirar o máximo da voz. “Se as pessoas saírem da palestra tendo consciência da própria voz já fico satisfeito. Depois ela vai se aprimorando sozinha”, fala. Pellegrini está pensando na possibilidade de escrever um livro sobre o assunto. A última obra do escritor foi publicada no mês passado pela editora Record, Conversa de Amor que traz histórias curtas e médias.

ABL

Pellegrini concorreu à Academia Brasileira de Letras. Mas o paranaense não ganhou nenhum voto. Diz que fez campanha contra porque não gostaria de entrar para a imortalidade neste momento. Quem ganhou a vaga deixada por Raquel de Queiroz no fim do ano passado foi o historiador José Murilo de Carvalho.

Pellegrini critica a forma como os membros da academia são escolhidos. “É um clientelismo, um provincianismo e compadrismo. É até necrófilo”, comenta. Segundo o escritor, quando alguém morre, os candidatos já começam a se articular e pedem os votos dos demais imortais. Muitos se comprometem, até mesmo sem saber quem vai se candidatar. Pellegrini já foi vencedor de dois prêmios Jabuti. Ele escreve contos, poesias, romances e romances juvenis. “As eleições da ABL não estão a altura da consideração que o povo brasileiro têm pela academia”, ressalta.

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