Pedreiras cotidianas

É difícil imaginar Luiz Fernando Guimarães sem aquela expressão que parece pronta para a próxima piada. Por isso mesmo, o ator nem pensa em fazer drama tão cedo. Para dar vazão à sua notória veia cômica, Luiz Fernando volta à telinha no próximo dia 7 com o seriado Minha nada mole vida. O argumento foi do próprio ator, que mais uma vez irá trabalhar com a dupla de roteiristas Fernanda Young e Alexandre Machado, a mesma de Os normais. No programa, ele será Jorge Horácio, um jornalista social, ao melhor estilo Amaury Jr., que é obrigado por um Juiz a ficar com o filho todo fim de semana. "A idéia é em cima de um homem moderno, separado e com um filho, e sua relação com ele, com o trabalho e o dinheiro", resume o ator.

A profissão do personagem foi escolhida a dedo. Pelo lado dos roteiristas, um profissional que lida com o glamour e com a exposição na mídia poderia ser a síntese de uma vida aparentemente fácil, mas que na prática é tão difícil quanto a de qualquer outra pessoa. Quanto à forma de atuar de Luiz Fernando, fazer um entrevistador é a chance de dar margem às improvisações que lhe são características. "Para garantir maior espontaneidade às cenas de entrevistas, o texto não é muito ensaiado, o que dá um frescor", explica.

Em um primeiro momento, o personagem remete a outros tipos cômicos da carreira do humorista. Acostumado a personagens como o Ruy, de Os normais, ou de trabalhos como nos quadros Supersincero e Vida ao Vivo Show, Luiz Fernando não se incomoda com eventuais comparações. Ele explica, contudo, que as semelhanças entre seus tipos se dão justamente em função de sua origem teatral, farta de improvisos e de expressões caricatas. Ainda assim, o ator acredita que é possível fazer algo novo, desde que se tenha domínio sobre o personagem. "Eu não construo personagens. Decoro pouquíssimo, mas leio muito o texto, para quando chegar em cena, se eu errar, ter consciência do que estou fazendo", revela.

Além de sua formação teatral, outros fatores justificam os muitos tipos "espontâneos" que o ator coleciona. Isso porque Luiz Fernando não nega que a sua própria personalidade influencia no perfil de suas criações. No caso do Jorge Horácio, de Minha nada mole vida, o ator confessa que emprestou muito de uma angústia que é sua. Ainda assim, o comediante acredita que é justamente das situações que surgem a partir desse sentimento que ele extrai muito do humor de seus personagens. "É um personagem angustiado, como todos os personagens que faço, porque eu sou assim e acabo colocando isso. Mas acho que ele é moderno, porque o mundo é angustiado", observa.

Luiz Fernando Guimarães está fora do ar com um programa mais regular desde 2003, quando Os normais saiu da grade da Globo. Recentemente, voltou a aparecer no vídeo através do quadro Supersincero, do Fantástico. A opção de esperar o momento certo para voltar a ter um programa foi do próprio Luiz Fernando. Isso porque ele sequer cogita a possibilidade de deixar de fazer seriados cômicos e voltar a fazer novelas, por exemplo. Sua última participação num folhetim, aliás, foi como o Comandante Varela em Uga Uga, de 2000. "Sempre gostei de colaborar de forma mais intensa, mais profunda no método de trabalho, na criação, de interferir, de poder dar a minha opinião", justifica.

Com 30 anos de carreira televisiva, Luiz Fernando demorou a "estourar" na televisão. Depois de papéis secundários em novelas como Vereda tropical e Cambalacho, o ator achou seu espaço na tevê com o humorístico TV Pirata, em 1988. No programa, ao lado de comediantes como Marco Nanini e Regina Casé, entre outros, ele pôde trabalhar um tom de interpretação de comédia que antes só era possível no teatro. "Se hoje nós estamos aqui isso se deve à TV Pirata. Foi um marco para a televisão e, para mim, foi uma continuidade do teatro", acredita.

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