Peça valoriza o universo masculino do Anjo Pornográfico

Uma injustiça histórica está sendo corrigida desde ontem, com a estréia no Teatro Lala Schneider do espetáculo Todos os Homens do Senhor Nelson: pela primeira vez, os malfadados homens do universo rodrigueano estarão em primeiro plano: os pais canalhas, os genros comprados, os anti-heróis, os chefes de famílias apodrecidas, os homens bons, os grandes infelizes, os maridos frustrados, os obcecados e traídos e os canalhas por natureza. Já as suas célebres mulheres foram reduzidas a referências, praticamente marcações cenográficas.

A idéia surgiu de uma observação do autor e diretor, Jader Alves: “Apesar de os homens rodriguianos mostrarem grande força e fascínio, sempre foram as mulheres o foco dos diretores de teatro e cinema”, observa Jader. “Assim, foi impossível não pensar em construir um espetáculo que falasse exclusivamente desses relegados, o que acabou se transformando num sonho e num desafio”.

Para concretizar esse sonho, o diretor convidou sete atores – André Gaspar, Fábio Delattre, Felipe Moletta, Gerson Egg, Léo de Andrade, Marco Freire e Rubens Siena que inicialmente formaram um grupo de estudos com o diretor. Durante cinco meses, eles mergulharam na vida e na obra do Anjo Pornográfico. “Foi muito bom, porque nos três meses de ensaios que se seguiram, todos estávamos impregnados do espírito rodriguiano, o que facilitou muito na construção dos personagens”. Assim nasceu a Cia. Cênica Os Nelsons.

No texto, Jader Alves procurou beber na fonte dos amores rarefeitos, do romance cru e rasteiro tão típico das histórias rodrigueanas. “Foi isso o que pretendemos com Todos os Homens…: abrir os olhos e despertar os sentimentos escondidos no coração de cada um dos “senhores? sentados na platéia”.

Mas ele garante que as mulheres não vão se sentir alijadas do processo, como clandestinas num Clube do Bolinha: “Esses homens falam e agem o tempo todo em função das suas mulheres, mães, irmãs, filhas, sogras… e à medida que falam, vão revelando esses objetos do universo feminino, como quem exorciza os seus fantasmas”, resume. O texto é fragmentado em oito quadros, com encontros inusitados entre os personagens de praticamente todas as peças do dramaturgo (menos Dorotéia, Valsa n.º 6 e A Serpente). Assim, em Os Pais Canalhas, o Dr. JB de Viúva porém Honesta encontra o Seu Noronha, de Os Sete Gatinhos e o Dr. Werneck, de Bonitinha mas Ordinária. Já em Os Maridos Frustrados, o Olegário de A Mulher sem Pecado desabafa com Tuninho, de A Falecida e o médico Ismael, de Anjo Negro. Na categoria canalhas, não poderia faltar o encontro entre Oswaldinho, de Anti-Nelson Rodrigues e Patrício, de Toda Nudez Será Castigada.

Todos os Homens do Senhor Nelson fez uma pré-estréia no ano passado, no VI Festival do Teatro Lala Schneider, em que acabou faturando dois dos três prêmios que disputou: Melhor Ator Coadjuvante para Fábio Delattre e Melhor Espetáculo. “Ficamos com a sensação de que o nosso filho já nasceu vitorioso”.

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Até o dia 16 de março no Teatro Lala Schneider (Rua Treze de Maio, 629), com intervalo no final de semana do Carnaval. Sessões de sexta a domingo, sempre às 21h. Ingressos a 10, 8 (bônus) e 5 reais (estudantes e classe artística).

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