Paula Burlamaqui se conscientiza da beleza e reconhece o próprio talento

Durante muito tempo, Paula Burlamaqui declarou guerra a uma inimiga aparentemente imbatível: ela mesma. Cansada de ser lembrada apenas para fazer a “loura gostosona” das novelas, a atriz passou a reivindicar papéis que exigissem mais de seus recursos dramáticos e menos de seus atributos físicos. Até que ouviu do diretor Paulo Ubiratan uma justificativa que considerou irrefutável: “Paula, deixe de preconceitos, você é uma mulher bonita!”. Desde então, Paula procurou ser menos resistente aos personagens que interpreta. Ela até admite fazer a “cobiçada do bairro”, desde que ela tenha conteúdo… “Televisão é bom de fazer e eu adoro, mas estigmatiza à beça. Estava com necessidade de topar desafios que exigissem mais de mim”, desabafa a atriz.

Por isso mesmo, Paula Burlamaqui andou tão sumida das novelas. A última que fez na Globo foi “Explode Coração”, de Glória Perez, em 1997. Depois disso, a atriz só recebeu convites da Band, onde atuou em “Perdidos de Amor” e “Serras Azuis”, ambas escritas por Ana Maria Moretzsohn. Foi em “Serras Azuis”, aliás, que ela interpretou um de seus papéis favoritos: Tonietinha, uma dona-de-casa do interior que se julgava horrorosa. “Aquele personagem me ofereceu inúmeros obstáculos a transpor”, justifica. Fora a atriz, só Ana Maria, a autora da novela, deve se lembrar da tal Tonietinha. Não por acaso, ela convidou Paula Burlamaqui para fazer Tânia, uma das vilãs de “Sabor da Paixão”.

Com 15 anos de experiência na tevê, iniciados em “Barriga de Aluguel”, de Glória Perez, Paula já devia estar acostumada com as muitas idas e vindas que uma novela dá. Assim, ela não estaria tão desapontada com os rumos que Tânia vem tomando na novela das seis. De acordo com a sinopse, Tânia não sossegaria enquanto não destruísse a vida de Diana, personagem de Letícia Spiller. Mas sossegou. A ponto de começar a praticar boas ações, dignas de uma Madre Teresa. “Ela virou uma santa. Só falta o véu”, ironiza.

Apesar da decepção, Paula se diz satisfeita por estar de volta à tevê. E por um motivo simples. Ela sabe que ator no Brasil precisa da tevê para sobreviver. “É por causa da tevê que o público vai ao teatro e que os diretores convidam você para fazer cinema”, raciocina. Certa ou errada, Paula fez duas peças e três filmes no período em que esteve ausente da tevê. Numa dessas empreitadas, trabalhou com Gerald Thomas. A menos de um mês para a estréia de “O Príncipe de Copacabana”, Paula não tinha uma fala sequer. Indignada, foi tomar satisfações com o diretor. Impassível, ele pediu calma. No dia da estréia, Gerald mudou o final da peça e deu a Paula duas laudas de texto para decorar… “Sofri muito nas mãos do Gerald. Trabalhar com ele é como mergulhar no abismo”, compara.

Passado o desespero, Paula até se orgulha por ter trabalhado com Gerald Thomas. E, principalmente, por ter sobrevivido a ele. “Foi uma experiência bastante proveitosa”, avalia. E que venham outras, torce a atriz. Só assim, acredita, vai conseguir impor o respeito que tanto almeja na profissão. Mas, por mais que tente, Paula não vai conseguir é esquecer que só deslanchou na carreira depois de vencer o concurso “Garota do Fantástico”, promovido em 1987. No ano seguinte, ela exibiu o pouco que o biquíni escondia nas páginas da “Playboy”, dividiu os palcos com Jorge Dória na peça “A Presidenta” e foi convidada por Roberto Talma para estrear na Globo como atriz. “Minha vida deu um nó”, tenta resumir.

Por “a vida dar um nó”, entenda-se que a atriz “pirou” mesmo. A então estudante da CAL, famoso curso de formação de atores, deu uma “subida no salto” – como ela mesma diz – e ficou deslumbrada com a fama repentina, conquistada aos 21 anos. O deslumbre custou um casamento de três anos com um colega de adolescência. Voltar a pôr os pés no chão foi um processo longo. “Você só torna a cair na real quando as dificuldades aparecem”, admite. Hoje, aos 36, Paula tenta recuperar o tempo perdido fazendo todo curso que aparece para se aprimorar cada vez mais como atriz. “O mercado é muito competitivo. Quanto mais limitado for o ator, menos chances ele terá”, reconhece.

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