Patrícia Pillar como Luana,
em O Rei do Gado, de 1996.

Patrícia Pillar se define como uma pessoa totalmente caseira. Mesmo assim, diz que jamais aceitaria que sua casa não fosse numa cidade grande. A atriz gosta de saber que, se ficar com fome às 4 h da manhã, pode comer uma pizza e tomar um chope logo ali na esquina. Nada disso, porém, impede que Patrícia fique absolutamente à vontade no universo rural das tramas de Benedito Ruy Barbosa. A conciliadora Emerenciana, de Cabocla, é sua quinta personagem do autor – as outras foram em Sinhá Moça, Renascer, O Rei do Gado e na urbana Vida Nova. “Os personagens têm uma pureza e uma verdade que na vida da cidade se perdem”, explica, escolhendo as palavras.

Em Cabocla, o apreço pelos personagens rurais ganhou um reforço. No começo das gravações, a atriz se surpreendeu com uma curiosa sensação de familiaridade. Só depois percebeu que Emerenciana lhe lembrava a falecida avó materna, Delzuíte, que vivia no Ceará. “Era muito grudada com ela, mas não tive contato com esta fase da vida dela de fazendeira”, conta, sem disfarçar a emoção. Assim como a personagem, Patrícia dá imenso valor à família. Em poucos minutos de conversa, cita mãe, pai, irmã, tios e avós, além do marido, Ciro Gomes, atual ministro da Integração Nacional. “Sem uma estrutura familiar sólida, a gente se sente muito desimportante”, diz a atriz, com um sorriso tímido.

Aos 40 anos de idade e 20 de carreira, Patrícia fala com a mesma serenidade sobre assuntos como trabalho, a passagem do tempo e até a recente batalha contra o câncer de mama. “Hoje, aproveito mais os momentos e exijo mais verdade de tudo”, compara, incisiva. Ao contrário de boa parte das atrizes na casa dos 40 anos, a atriz não se preocupa com a escassez de personagens femininas maduras. “Já fui a mocinha da história, hoje sou mãe e daqui a um tempo serei avó. É natural”, minimiza, entre risos. Patrícia diz que está acostumada a ser seletiva em relação aos trabalhos que faz. E que não vai mudar. “No teatro e no cinema, há mais liberdade. E, na tevê, vou seguir fazendo os bons trabalhos que surgirem. Temos de aprender a lidar com as transformações”, ensina, sem qualquer traço de ansiedade.

P – O que mais atraiu você no convite para Cabocla?

R – Saber que ia contracenar com o Tony Ramos ajudou muito. Só fizemos juntos o filme O Noviço Rebelde. E Rainha da Sucata, mas praticamente não contracenamos. Ele é generoso, divertidíssimo. Além disso, fui vendo o Sebastião Vasconcelos, a Vera Holtz, imaginei a “carinha” de uma turma legal para trabalhar. Isso é muito importante, porque é quase um ano da minha vida convivendo com estas pessoas. E, principalmente, por ser uma novela do Benedito.

P – Você costuma deixar grandes intervalos entre uma e outra novela. Por quê?

R – Gosto de fazer novela, mas minha vida passa a ser pautada pelo roteiro de gravação. É complicado marcar um dentista, fazer ginástica, porque a gente passa a não ser mais dono do nosso tempo. Agora, quando a novela é bacana, eu adoro.

P – A luta contra o câncer mudou de alguma forma seu modo de se relacionar com o trabalho?

R – Na hora do susto, muda um monte de coisas, mas depois volta tudo ao normal. O que, de certa forma, é bom. O tempo apaga até aquele medão que a gente sente na hora. Tanto que voltei a fumar, coisa que não devia estar fazendo. Mas, em geral, não sou uma pessoa com tendência a ficar mal, não gasto meu tempo me consumindo com isso. É claro que, no decorrer da vida, algumas coisas que acontecem nos ensinam muito. Mas não gosto de dizer que isso mudou a minha vida. Não, está tudo normal. Só que aprendi algumas coisas também. Hoje já tenho mais facilidade para dizer “não”. Aproveito melhor os momentos e exijo mais verdade de tudo, não só no trabalho como na minha vida pessoal. E aprendi a selecionar as coisas pelas quais vou sofrer. Hoje em dia, não sofro mais com qualquer coisa.

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