Patrícia Pillar se diz totalmente caseira, mas não quer saber de morar em uma cidade pequena

Patrícia Pillar se define como uma pessoa totalmente caseira. Mesmo assim, diz que jamais aceitaria que sua casa não fosse numa cidade grande. A atriz gosta de saber que, se ficar com fome às 4 h da manhã, pode comer uma pizza e tomar um chope logo ali na esquina. Nada disso, porém, impede que Patrícia fique absolutamente à vontade no universo rural das tramas de Benedito Ruy Barbosa. A conciliadora Emerenciana, de Cabocla, é sua quinta personagem do autor – as outras foram em Sinhá Moça, Renascer, O Rei do Gado e na urbana Vida Nova. “Os personagens têm uma pureza e uma verdade que na vida da cidade se perdem”, explica, escolhendo as palavras.

Em Cabocla, o apreço pelos personagens rurais ganhou um reforço. No começo das gravações, a atriz se surpreendeu com uma curiosa sensação de familiaridade. Só depois percebeu que Emerenciana lhe lembrava a falecida avó materna, Delzuíte, que vivia no Ceará. “Era muito grudada com ela, mas não tive contato com esta fase da vida dela de fazendeira”, conta, sem disfarçar a emoção. Assim como a personagem, Patrícia dá imenso valor à família. Em poucos minutos de conversa, cita mãe, pai, irmã, tios e avós, além do marido, Ciro Gomes, atual ministro da Integração Nacional. “Sem uma estrutura familiar sólida, a gente se sente muito desimportante”, diz a atriz, com um sorriso tímido.

Aos 40 anos de idade e 20 de carreira, Patrícia fala com a mesma serenidade sobre assuntos como trabalho, a passagem do tempo e até a recente batalha contra o câncer de mama. “Hoje, aproveito mais os momentos e exijo mais verdade de tudo”, compara, incisiva. Ao contrário de boa parte das atrizes na casa dos 40 anos, a atriz não se preocupa com a escassez de personagens femininas maduras. “Já fui a mocinha da história, hoje sou mãe e daqui a um tempo serei avó. É natural”, minimiza, entre risos. Patrícia diz que está acostumada a ser seletiva em relação aos trabalhos que faz. E que não vai mudar. “No teatro e no cinema, há mais liberdade. E, na tevê, vou seguir fazendo os bons trabalhos que surgirem. Temos de aprender a lidar com as transformações”, ensina, sem qualquer traço de ansiedade.

P –

O que mais atraiu você no convite para Cabocla?

R –

Saber que ia contracenar com o Tony Ramos ajudou muito. Só fizemos juntos o filme O Noviço Rebelde. E Rainha da Sucata, mas praticamente não contracenamos. Ele é generoso, divertidíssimo. Além disso, fui vendo o Sebastião Vasconcelos, a Vera Holtz, imaginei a “carinha” de uma turma legal para trabalhar. Isso é muito importante, porque é quase um ano da minha vida convivendo com estas pessoas. E, principalmente, por ser uma novela do Benedito.

P –

Você costuma deixar grandes intervalos entre uma e outra novela. Por quê?

R –

Gosto de fazer novela, mas minha vida passa a ser pautada pelo roteiro de gravação. É complicado marcar um dentista, fazer ginástica, porque a gente passa a não ser mais dono do nosso tempo. Agora, quando a novela é bacana, eu adoro.

P –

A luta contra o câncer mudou de alguma forma seu modo de se relacionar com o trabalho?

R –

Na hora do susto, muda um monte de coisas, mas depois volta tudo ao normal. O que, de certa forma, é bom. O tempo apaga até aquele medão que a gente sente na hora. Tanto que voltei a fumar, coisa que não devia estar fazendo. Mas, em geral, não sou uma pessoa com tendência a ficar mal, não gasto meu tempo me consumindo com isso. É claro que, no decorrer da vida, algumas coisas que acontecem nos ensinam muito. Mas não gosto de dizer que isso mudou a minha vida. Não, está tudo normal. Só que aprendi algumas coisas também. Hoje já tenho mais facilidade para dizer “não”. Aproveito melhor os momentos e exijo mais verdade de tudo, não só no trabalho como na minha vida pessoal. E aprendi a selecionar as coisas pelas quais vou sofrer. Hoje em dia, não sofro mais com qualquer coisa.

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