Patrícia Pillar retoma trabalhos na tevê com uma mulher de fibra

Ao ser sondada para participar da reedição de “Carga Pesada”, Patrícia Pillar aceitou na hora. Longe da televisão desde “Um Anjo Caiu do Céu”, em 2001, a atriz brasiliense percebeu que o seriado representaria uma volta em alto-astral para a telinha. Como passou por um tratamento de câncer no seio – descoberto em dezembro de 2001 -, em que perdeu o cabelo devido à quimioterapia, Patrícia adorou retornar na pele da caminhoneira Rosa. A personagem é uma viúva que teve de arregaçar as mangas e cair na estrada no comando do caminhão do falecido marido.

Preocupada em não reeditar na tevê seus pares românticos em curtos intervalos de tempo, Patrícia viu com bons olhos contracenar novamente com Antônio Fagundes, que interpreta o caminhoneiro Pedro no seriado. “Após sete anos, não tem problema”, afirma. Os dois viveram os protagonistas de “O Rei do Gado”, em 1996, quando Patrícia fez a sem-terra Luana e, mais uma vez, provou um universo bem distante do seu. Aliás, para a atriz de 39 anos, quanto mais distante de sua realidade, melhor o papel. Com 10 novelas e oito filmes em 19 anos de carreira, Patrícia tenta aos poucos fazer projetos paralelos à tevê. Como, por exemplo, produzir o disco e dirigir o videoclipe da música “Saudade da Saudade”, da cantora carioca Eveline Hecker, e organizar o livro “Desafio Chamado Brasil”, atualmente na quinta edição – do namorado Ciro Gomes, candidato à Presidência em 2002 e atual ministro da Integração Nacional. Mesmo dona de uma beleza incontestável, a atriz tem medo que, com o tempo, não seja mais chamada para interpretar papéis interessantes. “A tevê é cruel para as atrizes acima dos 40 anos”, assusta-se.

P

– O que mais a motivou a participar de Carga Pesada?

R – O projeto. Às vezes, pode-se ter um papel legal, mas num programa que não interessa. Neste caso, o que me fez botar “um olhão em cima” foi o projeto. Mas a Rosa é uma graça. É interessante que seja uma caminhoneira, bem distante da minha realidade.

P

– Como você convive com a idéia de envelhecer… Antes, você fazia a filha. Agora, vive a mãe…

R – Viva o teatro, onde o ator pode fazer tudo e tem liberdade. Televisão não é tudo na vida de um ator.

P

– E você se angustia com isso?

R

– É cruel. Não só por isso. No cinema, a luz é mais cuidadosa. Fico imaginando a Catherine Deneuve fazendo novela das seis. Não consigo, porque ela é aquela mulher que está sempre envolta em uma luz linda. As atrizes brasileiras não. Têm de conviver com muito close, uma luz que serve para quatro câmaras. Não é uma luz adequada para mulheres acima dos 40. Fazer tevê, às vezes, é ingrato, porque não tem nenhuma poesia entre o ator e a imagem.

P

– Você chegou a pensar que sua carreira havia acabado?

R – Não me sinto refém da carreira. Posso ser feliz dirigindo, produzindo… Queria era ficar boa. Agora me consulto só de três em três meses. E já se passou mais de um ano. Lembro que fiquei careca no Carnaval de 2002. Resolvi ir com um cocar dos Parintins. Quando voltei e tirei o cocar, o cabelo saiu junto e, quando tomei banho, caiu tudo. Foi um dia muito difícil.

P

– Você nunca aceitou posar nua. Por quê?

R – Da minha geração, acho que ninguém posou nua… Giulia Gam, Debora Bloch, Fernanda Torres, Cláudia Abreu, Julia Lemmertz, Malu Mader… Mas faz tempo que não dão uma incerta. Até porque sempre disse não de cara.

Encaixe bem natural

Ao pensar na maneira que iria compor a Rosa de “Carga Pesada”, Patrícia Pillar decidiu não mexer no cabelo. Ainda em fase de crescimento, já que vinha de sessões de quimioterapia, e longe de estar com um corte considerado moderno, a atriz achou que as madeixas estavam bem no clima da personagem. “Meu cabelo encaixou no estilo de uma mulher que está na batalha e sem tempo para vaidades”, acredita Patrícia. Como não tem carteira para dirigir caminhão, a atriz também acabou contando com a cabine montada pela Volkswagen na fábrica em Rezende. Mas Patrícia jura que chegou a conduzir de verdade alguns caminhões nas gravações. “Até porque hoje não é preciso mais força para dirigir caminhão. Difícil mesmo é ter a noção de espaço”, explica a atriz.

Patrícia também criou um passado para a personagem, pois na sinopse só constava que Rosa era viúva de um caminhoneiro. Para facilitar a composição, a atriz inventou que a personagem era professora primária e cuidava dos filhos em casa.

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