Patativa do Assaré. Poeta brasileiro

Fortaleza

? “Não sei se deixo saudade, mas falta deixo demais”. A manhã cearense surgiu cinza como não se vira até agora. Era inevitável – passaram poucos minutos e veio a chuva, renitente no início mas forte (em termos cearenses) depois. Para muitos, era a prova de que o céu também sentira a perda do maior poeta popular do Brasil. O Ceará está de luto após a morte, na noite de segunda, do – mais que tudo – personagem Patativa do Assaré.

Ele morreu de dupla pneumonia na sua Assaré, cercado pelos familiares. Mas ele não sabia quem estava ao seu lado ? estava surdo, cego e paralítico devido à saúde frágil, que já o abalara anos antes. Apesar disso, ainda tinha forças para criar, sempre sendo uma voz contra o desamparo social, a desigualdade e a pobreza do seu povo – povo que ele também era, desde que nasceu em 1909, de nome Antônio Gonçalves da Silva.

Ele tornou-se conhecido nacionalmente no início da década de 80, quando seus textos foram reunidos em coletâneas, e suas poesias foram musicadas por cearenses como Raimundo Fagner – a mais famosa é Vaca Estrela e Boi Fubá, cantada por diversos intérpretes. Patativa acabou se transformando no símbolo da resistência do nordestino ante as maiores secas da história (principalmente a de 83) e depois na incrível enchente de 85, que destruiu cidades inteiras.

Para a cultura popular do Nordeste (os cordéis, os repentes, a poesia de rua), a importância de Patativa do Assaré é imensurável. Ele foi o ponta-de-lança da revitalização de um meio de vida de milhares iguais a ele, participando inclusive do culto a Luiz Gonzaga. Por isso entende-se a tristeza de um povo, que chora a morte de seu maior poeta. O governador Beni Veras decretou luto oficial de três dias no Estado. “De meu fúnebre caixão, sem soluços nem gemidos, eu subi para a mansão da Pátria dos Escolhidos”.

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