“Para Roma com amor” é um filme menor de Woody Allen

Nem tão bom quanto “A Rosa púrpura do Cairo” e nem tão ruim quanto “Match point”. Com a cena inicial remetendo á clássica passagem de “Roma de Fellini”, o novo longa de Woody Allen, “Para Roma com amor” (To Rome with Love), é, na verdade, uma tentativa frustrado do diretor, de 76 anos, que também atua no filme, narrar, simultaneamente, quatro diferentes histórias. De certa forma, Allen se apropriou da fórmula clássica utilizada em “Paris, eu te amo” e “Nova York, eu te amo” que, sob a batuta de um coletivo de diretores, transforma as metrópoles em cenários para encontros e desencontros afetivos.

 O defeito de “Para Roma com amor” não está em intercalar histórias diferentes e que, em momento algum se cruzam, mas, em cada uma delas, não existir um significado individual. Talvez, apenas ao mostrar o drama de um agente funerário romano (Fabio Amiliato) que só consegue executar óperas com maestria quando está no chuveiro e, por isso, leva o banheiro consigo para os palcos. A esdrúxula idéia é de Jerry, interpretado por Allen, que terá sua filha (Alison Pill) casada com um advogado altruísta italiano (Flavio Parenti).

 A comicidade pastelão chega aos extremos quando Leopoldo Pisanelo (Roberto Benigni) se torna, literalmente, de um momento para outro, famoso e tem sua vida pessoal devastada pela impressa, garantindo um jogo de perdas, no qual, o cidadão comum é atacado pelo discurso de Foucault e seus panótipos. Oscilando entre o desejo da fama e a vontade de ser um homem normal, Benigni experimenta o lado obscuro da fama e se ilude com a maquiagem do prestígio social. Isso, até ser esquecido e substituído por outro, mais interessante.

 Portanto, não há drama verdadeiro. O que há é apenas um pastiche de uma confusão amorosa, onde um estudante de arquitetura (Jesse Eisenberg), com ajuda de sua consciência (Alec Baldwin), que em muitas vezes se transforma em inconsciente coletivo e bom senso, tenta transpor a crise criada por sua namorada, Sally (Greta Gerwig), quando levou para casa a amiga egocêntrica Monica (Ellen Page).

 A tentativa de transformar Roma em uma cidade para a redenção de casais despreparados termina com a frustrada tentativa de Woody Allen de transformar um jovem casal do interior em protagonistas do maior confusão cosmopolita de todas: a busca de identidade em meio às texturas culturais e sociais. Com esse enredo, Antonio (Alessandro Tiberi) tenta transformar sua esposa Milly (Alessandra Mastronardi) na mulher perfeita, porém, ele incapaz da perfeição, encontra nos ensinamento da prostituta Anna (Penélope Cruz) a fórmula para salvar sua família.

 Muito diferente de “Meia-noite em Paris”, “Para Roma com amor” emula os clássicos italianos, mas sem a paixão e a intensidade que o filme precisaria. Allen conseguiu prosseguir sua série de filmagens em diferentes cidades do mundo, no entanto, não teve o mesmo êxito em mostrar o potencial que a capital italiana possui. Sem abrir mãos dos clichês, não é difícil prever os acontecimentos, tão pouco perceber o desenrolar tardio e nonsense de cada história.

 Releitura da sátira renascentista “O Decameron”, de Giovanni Boccacio, o longa de Allen se distancia da adaptação de Pasolini, tanto nas pequenas sutilezas quanto nas seqüências concebidas com exatidão.