Para não dizer que não falei de Eça

A influência da obra queirosiana tem sido extensa nas literaturas portuguesa e brasileira (a espanhola também poderia ser incluída). Escritores e críticos reconhecem em Eça de Queirós um mestre e extraordinário autor universal.

Observa-se, claramente, uma nítida evolução na obra de Eça. Notam-se nela três fases, começando pela das Prosas Marginais, onde se mesclam influências do francês Vitor Hugo e outros. A segunda fase vai desde O Crime do Padre Amaro até Os Maias, fase esta marcada pela crítica às instituições burguesas e à sociedade portuguesa em particular. Os ditos aspectos são tratados em cada um dos livros dessa época, passando ainda pelo O Primo Basílio e A Capital. Neste último livro, percebe-se a corrupção dos meios literários da capital portuguesa. A terceira fase da evolução de Eça inicia-se em 1889. Trata-se de uma fase um tanto incerta em que escreve Correspondência de Fradique Mendes, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras. Durante esta última fase, Eça -também em colaborações a jornais brasileiros e portugueses – mostra uma clara visão política e social de seu tempo, que é um revide natural aos autores ultra-românticos que ele conhecia. Aliás, toda a sua obra (ou a maior parte dela) tem esta marca.

Estou seguro de estar tratando nesta oportunidade de um escritor como poucos, de uma personalidade única, de um oponente decidido da corrente ultra-romântica da época, de um novelista e contista de imensos recursos, de um autor de vasta bibliografia, de um dos mestres do realismo. Não é por acaso que ele tem merecido largos e justos elogios da crítica estrangeira, razão pela qual seus trabalhos acham-se traduzidos em diversos idiomas.

Qual o motivo de se falar em Eça de Queirós neste final de ano (final de ano, sim – estamos entrando no último trimestre de 2003)? Não há uma razão particular, porque sempre é tempo de se lembrar nomes como o do consagrado autor português, a não ser para evitar o esquecimento no mês próprio e para não dizer que não falei de Eça (quem disse isto antes?), do qual, como se vê, sou grande admirador. Recorde-se, no entanto, que o mês de novembro, justamente no último trimestre do ano, assinala mais um aniversário de nascimento do escritor. Desta maneira, não se poderia deixar de fazer este registro, mesmo que aditando (porque, já disse, posso esquecer de fazê-lo em novembro), ao mais notável representante do Realismo no romance português, que dignifica as Letras portuguesas e os países de cultura lusíada, dentre os quais pontifica nosso querido Brasil. Por estes lados – a Terra Abençoada – não há motivo para ciúme: nasceu aqui (apenas para citar um escritor da mesma época) o expoente Machado de Assis, entre outros.

O mestre do Realismo português, José Maria Eça de Queirós, nasceu em Póvoa de Varzim (Portugal) em 25 de novembro de 1845. Há anos sofrendo de uma tuberculose intestinal, Eça vai para a Suíça, no ano de 1900, já com a doença agravada. Piorando, desloca-se para as imediações de Paris, onde vem a falecer em 16 de agosto do mesmo ano. Eça iria completar 55 anos, mas a foice da morte não suportou o talento da pena do escritor e ceifou-lhe a vida antes do outono.

Entretanto, o autor de quem falo hoje não desapareceu: a produção de sua lavra fecunda – a literatura eçaniana – alimenta os espíritos de enorme legião de simpatizantes. Porque um grande escritor, um mestre, não morre: imortaliza-se na sua obra. É o caso do célebre escritor – a quem se presta esta homenagem, que o seu mérito nos impõe – que tanto contribuiu para a divulgação da língua portuguesa em muitos países e tem dado estímulo e inspirado a muitos que se lançam na aventura ímpar e fascinante da criação literária.

Voltar ao topo