Para Lula ler no Planalto

No jantar de aniversário do radialista Paulo Lopes, em São Paulo, o ministro José Serra pegou no braço do deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP), fundador da Força Sindical, e o levou à varanda:

– Medeiros, você vai me apoiar ou não?

– Serra, não posso apoiar você. Vou apoiar o Lula. Meu partido, o PL, vai apoiar o Lula e eu vou ficar com meu partido e com Lula.

– E o Paulinho (Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical)?

– Serra, o Paulinho é do PTB, que está apoiando o Ciro Gomes. Paulinho vai ficar com o Ciro.

– Mas, Medeiros, em 94 e 98 vocês ficaram conosco. Por que isso agora?

– Ora, Serra, porque a situação é outra, o País e a política são outros.

– Olha, Medeiros, estou com 60 anos e me preparei a vida inteira para ser presidente da República. Não posso esperar 2006. A decadência física das pessoas começa depois dos 60. Nunca esqueço o Montoro (Franco Montoro, governador de São Paulo), que terminou o governo dele já gagá, aos 70 anos.

– Que bobagem, Serra, você está tão jovem, tão bem.

– Nada disso, Medeiros. É agora ou nunca. Vou passar por cima de quem estiver em meu caminho.

Esta é uma das 500 novas histórias que o jornalista Sebastião Nery conta em Folclore Político, que a Geração Editorial apresenta em 656 páginas, reunindo um total de 1.950 “causos” dos meandros do poder. Assinam os prefácios Millôr Fernandes, Joel Silveira e José Nêumanne Pinto. As ilustrações são de Nássara, Lan e Oswaldo Pavanelli.

O álbum reúne histórias recentes e as publicadas nos quatro volumes dos anos 70 e 80. Sebastião Nery foi também deputado federal e desfrutou de ruidosa inimizade com Leonel Brizola, ao mesmo tempo em que usufruia amizade com Fernando Collor.

E sobre o novo governo, uma opinião de Nery que não está no livro: “Eu acho que no Brasil realmente a esperança derrotou o medo. Aprendemos que somos um país rico demais para ser dado de graça. FHC cometeu seu último crime, que foi dar o Brasil tão barato como fez. Lula não vai cometer esse crime. Duas palavras que Lula vai ter como norte: negociar e soberania. Porque não dá mais para acontecer o que houve neste ano, quando 30% dos lucros foram para os bancos e 1,5% para as empresas. Isso não aconteceu nem na Idade Média, no colonialismo europeu ou no imperialismo. É mais velho, do tempo de Herodes. Fomos piores do que medievais.”

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