Os prós e contras dos atores que assinam por obra e por tempo

Os últimos capítulos de uma novela podem se tornar um alívio ou um tormento na vida de qualquer ator. Se ele tiver contrato longo, será um alívio. Poderá tirar férias, viajar, etc. Caso contrário, será um tormento. Nesses casos, a pergunta que eles mais fazem é: “Quando surgirá o próximo convite?”. Enquanto novas propostas não aparecem, ficam à beira do desemprego. Com um pouco de sorte, podem trabalhar em outras emissoras. “Quando vejo amigos sem dinheiro para pagar o aluguel, me sinto uma privilegiada. Infelizmente, sou uma minoria”, admite Regiane Alves, que renovou com a Globo até 2008.

Regiane tem razão. A intérprete da Belinha, de Cabocla, é uma exceção na regra da Globo. Já houve tempo em que os contratos eram automaticamente renovados. Hoje, não. A atual política da casa prioriza contratos por obra, de curta duração. São poucos os que, a exemplo de Regiane, assinam por tempo determinado, geralmente três ou quatro anos. “Contratos longos dão segurança para eu fazer o que mais gosto. Independentemente dos meus livros serem ou não publicados, gosto mesmo é de escrever”, assume Calloni, já confirmado para Começar de Novo, de Antônio Calmon, a próxima das sete.

No ranking dos atores com contratos longos mais bem pagos da Globo, Tarcísio Meira e Glória Menezes ocupam lugar privilegiado. Estima-se que cada um fature R$ 120 mil mensais. Em seguida, vêm Tony Ramos e Antônio Fagundes, com salários estimados em R$ 60 mil. A grande maioria, no entanto, recebe entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. Com um detalhe: quando o ator não está no ar, o salário sofre uma redução de até 60%. Daí, a preocupação de alguns de não saírem do ar.

Escolhendo

Mesmo assim, há aqueles que, apesar de contratados, não querem saber de fazer todo e qualquer trabalho. Eles podem até dizer “não” para esse ou aquele personagem, mas uma recusa mais sistemática sempre gera mal-estar. Foi isso que aconteceu com Letícia Spiller. Por conta do espetáculo O Falcão e o Imperador, ela declinou de convites para fazer Os Maias e O Clone. “Adoraria trabalhar com o Jayme Monjardim algum dia. Só espero que ele não tenha levado para o lado pessoal”, esclarece a atriz, referindo-se ao diretor de O Clone, que a chamou para fazer o papel da muçulmana Jade.

Na ocasião, Letícia chegou a ter o contrato rescindido. Por isso mesmo, desde então, só fecha por obra certa. Luana Piovani também. Para cobrir a licença-maternidade de Maria Paula no Casseta & Planeta, Urgente!, só fechou se fosse por três meses. “Gosto de ser dona do meu nariz e de só fazer o que eu quero”, justifica. Atualmente, a “casseta-interina” se dedica ao espetáculo O Pequeno Príncipe, sua segunda experiência como produtora teatral.

Sem luxo

Mas não é todo ator que pode se dar ao luxo de escolher papéis. Na maioria das vezes, se limitam a fazer os que a direção escala para eles fazerem. “Hoje em dia, já me sinto mais à vontade para escolher papéis porque eles sabem que minhas escolhas fazem sentido. Não digo não porque sou doidinha ou estou com preguiça. Sei dos meus deveres para com eles e eles sabem que cumpro minhas obrigações”, pondera Patrícia Pillar. Na contramão de Letícia Spiller, Patrícia já preferiu assinar por obra certa. Hoje, mantém vínculo empregatício com a Globo.

Há atores, no entanto, que relutam ao máximo. Esse é o caso de Selton Mello. Enquanto muitos optam por fazer o galã, ele prefere tipos “outsiders”, como o mentiroso Chicó, de O Auto da Compadecida. “Sei que a vida não está fácil para ninguém, mas sou capricorniano. Pareço aquelas formigas que trabalham no verão e guardam para o inverno”, compara. Ter liberdade para fazer o que quer, afinal, não tem mesmo preço. Um dos mais antigos da Globo, Roberto Bomfim nunca assinou com a emissora. “Gosto muito do meu trabalho, mas detesto o circo que armam em torno dele. Detestaria, por exemplo, ter de ir ao Faustão. Tenho horror a fazer o que não quero”, salienta, resoluto.

Terra de gigantes

A atual política de contratação da Globo acaba favorecendo as demais emissoras. Só assim, por exemplo, a Record conseguiu contratar, por R$ 100 mil mensais, o veterano Paulo Betti. A responsável pela façanha, na verdade, foi a diretora Tizuka Yamasaki, que convenceu outros atores, como Joana Fomm, Luciano Szafir e Vanessa Lóes, todos egressos da Globo, a fazerem Metamorphoses. “O fato de ter a Tizuka à frente do projeto me deu segurança. A questão do salário nem pesou tanto porque acabei ganhando até um pouco menos do que pedi”, garante Joana.

A exemplo da Record, o SBT ainda não tem condições de montar seu “cast”. Todos os atores da emissora, sem exceção, têm contrato por obra. “A emissora me acolheu no momento que eu mais precisava”, agradece Thierry Figueira, protagonista de Canavial das Paixões e Seus Olhos.

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