Os primeiros sucessos de Elza Soares

São Paulo – Era uma lacuna, uma das muitas, deixada pela indústria fonográfica. Os discos de Elza Soares, os primeiros, os melhores, jamais chegaram, ou chegaram desordenadamente, picotados em coletâneas tolas, à idade digital. Menos uma falha: a EMI acaba de lançar a caixa Negra, que abriga o que há de verdade de importante na discografia dela.

 

São 12 CDs. Os primeiros 11 contêm, no formato dois em um, os 22 discos gravados por Elza entre 1960, quando estreou, e 1988. O 12.º CD, que recebeu o título de Sambas e Mais Sambas, Volume 2, tem faixas editadas antes apenas em compactos (aqueles disquinhos de 33 rotações, do tempo em que os discos eram gravados dos dois lados, que tinham no máximo duas faixas de cada lado) ou como participação dela em projetos especiais. Raridades de fato.

 

Os encartes dos CDs reproduzem as capas dos elepês originais, trazem ficha técnica, letras das músicas (que, reduzidas, são muito difíceis de ler, mas vá lá) e textos que situam cada título no tempo, assinados por Marcelo Fróes, produtor executivo do projeto. Os discos foram remasterizados digitalmente.

 

Algumas capas não existiam mais nos arquivos das gravadoras. Foram cedidas para reprodução por colecionadores. Marcelo Fróes encontrou, quando pesquisava, 30 faixas inéditas, fonogramas não aproveitados nos elepês originais, e as espalhou pelos 9 primeiros volumes da caixa Negra.

Nascida em 23 de junho de 1937 em Moça Bonita, subúrbio do Rio, Elza era de família pobre. Casou-se quando tinha 12 anos e, aos 20, ganhou, cantando Lama, de Lupicínio Rodrigues, o prêmio acumulado do programa ?Calouros em Desfile?, comandado por Ari Barroso. Virou crooner de orquestra de bailes, viajou, cantou em boates e foi apresentada, em 1959, a Aloísio de Oliveira, que dirigia a gravadora Odeon (hoje EMI).

 

Aloísio, visionário que revelou João Gilberto, Quarteto em Cy, MPB-4, Tom Jobim, Nara Leão e outras figuras de importância igual, contratou-a imediatamente. Elza entrou em estúdio em novembro de 1959 e no ano seguinte, depois de lançar um 78 rotações, pôs na praça a voz poderosa no elepê Se Acaso Você Chegasse.

 

Foi quase imediatamente aclamada como dama do samba. Mas não era a rigor uma cantora de samba de morro, como observou Nei Lopes num texto em que comentava o disco Do Cóccix ao Pescoço, que Elza lançou no ano passado, pelo qual, considera Nei, Elza foi transformada em ícone pop, submetida a uma estética pop, empobrecedora.

 

Seja como for, é fato que Elza Soares, hoje, apesar da voz intacta, é quase paródica da grande cantora que foi. Cheia de cacoetes repetitivos, a dona da voz que vem sendo reverenciada pelas novas gerações está, de verdade, nesses 12 CDs de ?Negra?. Seria exaustivo mencionar o título e faixas de cada disco, mas vale lembrar que estão lá interpretações brilhantes para músicas – lançadas ou não por ela – como Rosa Morena, Mulata Assanhada, Tenha Pena de Mim, Fala Baixinho, Pressentimento, Domingo em Copacabana, Conversa de Botequim. Entre os títulos, os três que ela gravou em duo com Miltinho e o raro dividido com Roberto Ribeiro, outro com Wilson das Neves. Além do acervo da EMI, de 17 títulos, a coleção incorpora três elepês gravados para a Tapecar, entre 1974 e 1977, e o único feito para a RGE, Voltei, de 1978. A gravadora não tem preço sugerido para a coleção.

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