Os anos 80 do Cazuza – um mundo bem diferente

Na sexta-feira entra em cartaz o filme sobre o Cazuza. A propaganda oficial diz que ele era transgressor, sedutor, desafiador, radical, solidário, doce, agressivo, rebelde, artista. Cazuza, em seus 32 anos de vida, viveu muitas vidas, foi muitos e múltiplos em sua urgência de viver todas as possibilidades e afetos, testar todos os limites. Pode ser. Um aspecto importante do filme é que mostra o mundo como era nos anos 80. Ou até os anos 80, sem computador doméstico, sem internet, sem fax (tinha, mas eram poucos), sem o terrorismo profiussional , sem camisinha, sem preocupações maiores para os jovens. Talvez um mundo mais inocente do que o dos anos 90 e o atual. Mas com certeza bem mais interessante, mais empolgante e ainda cheio de esperanças. Cazuza misturava essa esperança com um certo ceticisimo. Brasil, olha sua cara.

O filme, carregado de patrocínios e apoios, com uma campanha publicitária agressiva, digna de produções americanas, promete sair dessa ladainha de produções violentos e/ou enfoques nordestinos e sua miséria.

Inspirado no emocionante e corajoso depoimento Só as Mães São Felizes, de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, interpretada por Marieta Severo, o filme abrange pouco mais de dez anos da vida louca, vida breve do cantor do início de sua carreira no Circo Voador, em 1981, ao estrondoso sucesso e shows apoteóticos com o Barão Vermelho, a carreira solo, a relação com os pais, amigos, amores e paixões, e a coragem com que enfrentou os últimos anos, vítima de HIV, até sua morte, em 1990. Dona Lucinha disse que o filme é perfeito. A direção é competente, Sandra Werneck, realizadora de 12 documentários, entre eles Guerra dos Meninos, com diversos prêmios internacionais, e Pequeno Dicionário Amoroso e Amores Possíveis, (melhor filme latino-americano na Mostra World Cinema no Festival de Sundance/2001) e Walter Carvalho, o mais premiado fotógrafo do cinema brasileiro (Central do Brasil, Lavoura Arcaica, Carandiru entre mais de 30 longas) e também co-diretor de Janela da Alma.

O intérprete

Daniel de Oliveira, 26 anos, em seu primeiro papel como protagonista, foi selecionado entre 60 atores para interpretar Cazuza. E foi durante os testes que Sandra Werneck identificou no ator o elemento essencial para interpretar o personagem: “Mais do que parecer com Cazuza, já nos testes Daniel apresentava uma “atitude Cazuza” muito forte e impressionante. Eu não tinha dúvidas de que seria o personagem e fiquei muito feliz quando os pais de Cazuza tiveram a mesma opinião”, diz a diretora.Nascido em Minas, o jovem ator teve aulas de interpretação, expressão corporal e voz (ele canta e dubla várias músicas, em um trabalho crescente que aos poucos se mistura à voz de Cazuza). Preparou-se um ano para o papel, que exigiu ainda que perdesse 12 quilos para viver a última fase do personagem. “Eu não quis interpretar Cazuza, eu quis viver Cazuza”, diz Daniel Oliveira, que já participou das novelas Malhação e Um Só Coração.

A vida louca, vida breve que marcou o percurso profissional e pessoal de Cazuza, do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990, aos 32 anos: o sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas que falavam dos anseios de uma geração, o comportamento transgressor e a coragem de continuar a carreira, criando e se apresentando, mesmo debilitado pela aids. A trajetória de um artista para quem o tempo não pára.

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