Oriovisto Guimarães toma posse na APL

A recente posse na Academia Paranaense de Letras, eleito por unanimidade, do professor Oriovisto Guimarães, diretor-presidente do Grupo Positivo e reitor da UnicenP, foi certamente uma solenidade das mais significativas, comandada, com o brilho consuetudinário, pelo presidente da entidade, o historiador Túlio Vargas.

Os pontos altos da sessão solene foram, sem dúvida, os dois discursos que se fizeram ouvir no salão nobre da UnicenP: o do recipiendário e o do acadêmico René Ariel Dotti, fazendo a clássica saudação do novo imortal.

Lembro, ?hic et nunc?, uma frase famosa desse titã da oratória do século vinte ? e de todos os tempos ? que se chamou Winston Churchil. Dizia ele, ?cum grano salis?: ?Há apenas três tipos de discursos ? os de tamanho longo, os de extensão média e os excelentes?.

Pois bem: tanto Oriovisto quanto René tiveram oportunidade de desmentir, em toda a plenitude, a afirmação enfática do grande estadista ? o Leão Britânico. Isso graças àquele ?engenho e arte? de que falava, se não o criador, pelo menos o consolidador da nossa Língua ? o excelso Camões.

Oriovisto fez um discurso enquadrado naquela mediania winstoniana, mas certamente excelente. Já René produziu uma oração longa, sim, mas indubitavelmente brilhante: um discurso grande e um grande discurso. Enfim, duas falas verdadeiramente paradigmáticas, por todos os títulos e com todos os méritos. Bebi-as como quem bebe o néctar ? verbal ? dos deuses do Olimpo.

O professor Oriovisto Guimarães elaborou uma peça oratória comovida, repassada de emoção e sentimento, e ao mesmo tempo enriquecida por uma simplicidade medida, meditada, consubstanciando uma estratégia bem-concebida e melhor executada, extremamente funcional.

Começando por historiar do seu périplo existencial, marcado por vicissitudes inalienáveis e por conquistas e sucessos públicos e notórios, fez em seguida o competente elogio aos antecessores na cadeira número 6, que passou a ocupar. Foram eles: Ulisses Falcão Vieira, Ernani Guarita Cartaxo, Francisco Raitani, Felício Raitani Neto e Harley Clóvis Stocchero. A referida cadeira tem como patrono o senador Manuel Francisco Correia Neto e como fundador o grande crítico e ensaísta Nestor Victor dos Santos.

Concluindo, Oriovisto teve oportunidade de formular uma série de considerações agudas e um elenco de reflexões penetrantes sobre essa temática/problemática de transcendente importância ? que é a Educação ? que tem nele, com efeito, um insigne ?expert?, na qualidade de educador emérito que é.

Das muitas passagens da sua oração modelar ficou-me na memória aquela em que o novo imortal se referiu ao fato de ter colocado sobre os ombros, ao longo da vida, três vestes especiais: o guarda-pó de professor, a beca de reitor e a ?pelerine? de membro da A.P.L., que acabava de envergar. Mas, acrescentou ele: ?Das três, a que mais me marcou foi certamente o guarda-pó de professor. Ele vestiu para sempre a minha alma?. Palavras admiráveis, essas, que nem o transparente exercício de uma retórica adequada torna menos tocantes, enriquecedoras e iluminantes.

Com relação à fala dottiana, o que dizer? Teve o brilho de sempre, pela amplitude pensante, pela profundidade conceitual, pela abrangência ideológica ? histórica, sociológica e política, sobretudo ? e, ?last but not least?, pelo ?ostinato rigore? verbal e o brilho estilístico. Revelou René à sociedade, pela enésima vez, aquilo que os antigos gregos chamavam de ?paideia?, os latinos traduziram como ?humanitas? e nós, contemporaneamente, chamamos de cultura, esse caleidoscópio multifacetado, multímodo e espectral, sempre definidor de uma peculiar ?weltanshauung?.

Uma coisa é certa: com suas naturais singularidades e especificidades (já que, como ensinava Buffon no seu admirável ?Discurso sobre o estilo?, ?le style c?est l?homme même?), produziram os dois acadêmicos peças oratórias que doravante enriquecem os anais da APL

Abrilhantou a noite o talento da grande pianista russa Olga Kium, que executou, com a maestria de sempre, peças de Vivaldi, Schubert e Chopin. Quer dizer: a música das palavras dos acadêmicos teve como contraponto a música pura e transfiguradora dos mestres da arte de Euterpe, entretecendo e consubstanciando uma simbiose que só pode merecer um adjetivo: encantadora. Em suma: foi mais uma Noite de Gala proporcionada por uma Instituição Cultural que tanto honra o Paraná, fundada há precisamente setenta anos por uma plêiade de figuras da ?inteligentzia? e das letras araucarianas, a começar por Ulisses Vieira, e continuando com Francisco Leite, Serafim França, Sá Barreto, Rodrigo Júnior, Alcebíades Miranda, Ciro Silva, Alceu Chichorro, Benedito Nicolau dos Santos e outros. Instituição que, há mais de uma década, é superiormente presidida por essa figura de escol que é o antigo político e lúcido historiador Túlio Vargas. Honro-me de integrá-la, ainda que dentro dos parâmetros da minha insignificância.

João Manuel Simões é membro da APL, do CLP, do IHGP ,do CEB, da UBE etc.  E é autor de 50 livros (de poesia, ensaio, crítica, contos, crônicas e pensamentos).

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