‘Olive Kitteridge’ revela altos e baixos da vida

Frances McDormand não costuma comprar direitos de livros para adaptação. Leu Olive Kitteridge, escrito por Elizabeth Strout e premiado com o Pulitzer, por prazer. Apaixonou-se tanto que passou a dar de presente para amigos. Uma delas percebeu que ela queria interpretar a personagem. “Só que eu sabia que não era um filme, que 90 minutos não dariam conta”, disse McDormand. Para a atriz, uma hora e meia normalmente é insuficiente para contar uma boa história protagonizada por uma mulher. “Precisamos de palavras, de arcos longos de desenvolvimento, de narrativas circulares e não lineares”, explicou. A solução era fazer uma minissérie, e assim nasceu Olive Kitteridge, cujos dois primeiros episódios são exibidos pela HBO amanhã, a partir das 22h – os outros dois passam na terça seguinte.

Cada capítulo resume uma década da vida da professora de matemática Olive, casada com Henry (Richard Jenkins) e mãe de Christopher (Devin Druid quando mais novo e John Gallagher Jr. na fase adulta). Eles moram numa pequena cidade no Estado do Maine em que a taxa de depressão e suicídios parece alarmantemente alta. O pai de Olive se suicidou, e ela mesma enfrenta a depressão, “um traço familiar”, como diz. Mas sem remédios nem terapia. “Ela encara tudo assim: se você está sofrendo, supere!”, afirmou a roteirista Jane Anderson. Não é uma mulher que chora. “Em vez de chorar, ela esfrega coisas”, disse McDormand.

A série é principalmente sobre como um casamento longo sobrevive à depressão e aos inevitáveis solavancos, e como erros do passado têm repercussões para sempre, inclusive na vida de pessoas da cidade. Olive é uma mulher muito difícil. Julga todo o mundo, é rabugenta e capaz de dizer coisas bem duras nos momentos mais inapropriados, vive no pé do marido e do filho, é dada a mudanças repentinas de humor. “Foi muito difícil encontrar o tom”, disse Anderson.

Lisa Cholodenko, que dirigiu todos os episódios, classifica Olive Kitteridge como “tramédia”, uma mistura de tragédia com comédia. “Queria que o espectador simpatizasse com essa pessoa que dá medo e machuca.” A cineasta de Minhas Mães e Meu Pai (2010), que concorreu a quatro Oscar, encarou o projeto como um longa-metragem e filmou em película. O resultado foi tão bom que a minissérie foi exibida fora de competição no Festival de Veneza, numa tendência que tem se disseminado – Top of the Lake, de Jane Campion, e Mildred Pierce, de Todd Haynes, também foram exibidos em festivais de cinema. “É preciso fluidez e abertura, porque as pessoas assistem televisão e há coisas incríveis sendo produzidas.”

Para Frances McDormand, Olive Kitteridge é seu “bebê”. Quando leu o livro, seu filho com o diretor Joel Coen tinha 13 anos, e a atriz sabia que ele sairia de casa em cinco, no máximo. “Precisava ficar ocupada”, disse. “A minissérie era um novo bebê para substituir meu bebê de verdade.” Foi assim que nasceu a Frances McDormand produtora – ela também está por trás de Every Secret Thing, dirigido por Amy Berg. “Além de ser atriz, sou dona de casa. Aprendi coisas que foram muito úteis como produtora, por exemplo, conseguir escolas para meu filho no mundo todo e fazer orçamento para uma família de três.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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