O universo da tragédia

Por que as peças de Shakespeare são ainda, quatrocentos anos depois de sua criação, montadas, filmadas e publicadas? O que é que há em Shakespeare para que psicanalistas, cientistas, poetas, sociólogos, filósofos, historiadores se interessem por suas obras? O que faz de Shakespeare nosso eterno contemporâneo? Por que uma peça como Lear, considerada junto com Hamlet, a obra-prima de Shakespeare, permanece válida hoje?

A indagação é da professora Liana de Camargo Leão que, com a colega Anna Stegh Camati, dará um curso sobre o universo da tragédia no Solar do Rosário. E ela mesma responde: “A permanência de Shakespeare se explica porque ele captura em suas peças a vida humana em toda a sua plenitude, valoriza cada aspecto vivido, principalmente o dia-a-dia, o cotidiano. Para ele, interessante não é só o herói de feitos grandiosos, mas também o personagem menor, o homem comum, o bobo da corte. De heróis e bobos, todos os personagens shakespearianos têm nome, têm uma pequena história pessoal a contar, são uma individualidade. E seus heróis, se por um lado destacam-se do resto dos mortais porque são mais inteligentes, mais corajosos, mais poderosos que os outros, por outro, esses mesmos heróis não estão livres dos erros que todos cometemos; ao contrário, os heróis shakespearianos nos interessam porque seus erros, similares aos nossos, acontecem em maior escala”.

No caso de Rei Lear, objeto principal do curso com extensão universitária, ela observa um aspecto interessante: “Lear é feito de bobo pelas espertas e ambiciosas filhas que não corresponderão ao grande amor que lhe professam ter. E o bobo de Lear, ao contrário, será quem melhor percebe o grande erro do velho rei – o bobo torna-se a consciência do velho rei”.

A contemporaneidade da obra é eloqüente, como repara a professora: “Ao mesmo tempo em que Rei Lear é um verdadeiro estudo sobre a velhice, a relação entre pais e filhos e os enganos e vaidades que permeiam essa relação, é também uma peça que fala da injustiça social. E nada mais contundente do que deixar esse velho rei Lear que por tantos anos governou o estado perceber que esqueceu do mais importante: daqueles que não têm voz nem casa, daqueles que realmente necessitam não da autoridade, mas da proteção de um rei. Lear aprende que ao rei não são devidas apenas honrarias e lisonjas, mas sobretudo lhe são impostas responsabilidades”.

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Aulas do dia 13 próximo a 10 de julho, sempre às quintas-feiras. Inscrições e mais informações no telefone (41) 225-6232 ou

www.solardorosario.com.br.

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