O Último Imperador: cópia restaurada exibida em Cannes

Em 2011, ao ganhar sua Palma de Ouro honorífica, e no ano passado, quando mostrou Io e Te na Croisette, Bernardo Bertolucci disse que era uma amarga ironia que justamente ele, que amava tanto os travellings, tenha sido confinado pela doença a uma cadeira de rodas. “Virei um travelling ambulante”, autodefiniu-se. Bertolucci voltou no fim de semana a Cannes e no domingo deu um reduzido número de entrevistas – três – para pequenos grupos de jornalistas. Veio apresentar a versão restaurada de O Último Imperador em Cannes Classics.

Embora a decisão de converter o filme para 3D não tenha sido dele, Bertolucci concordou com o repórter que lhe disse que ele parecia haver antecipado o recurso, há quase 30 anos. Só para situar no tempo e no espaço – O Último Imperador é de 1987. Ganhou os principais prêmios do ano – incluindo quatro Globos de Ouro e nove Oscars, entre eles os de filme e direção. Lembram-se da cena magnífica em que o imperador menino brinca com a bola na Cidade Proibida? Ficou ainda mais deslumbrante em 3D, com aquela cor e a profundidade do espaço, proporcionada pela terceira dimensão.

Mesmo preso à cadeira de rodas, Bertolucci não é do tipo que fica se lamentando. O melhor filme é o último – Io e Te. Por quê? “Porque é uma história de iniciação, e eu sempre gostei do tema. Porque foi um filme feito com muito amor, porque é muito bonito.” Embora não se prenda ao passado e prefira olhar para o futuro, Bertolucci não se furta a comentar de forma elogiosa seu épico intimista sobre o último imperador da China. Criado como Deus, Pu Yi, interpretado por John Lone, foi destituído do trono pela revolução comunista e terminou seus dias como jardineiro no palácio em que havia reinado.

“O filme continua vivo e a primeira parte é muito plástica”, avalia o diretor. “O Último Imperador tem algumas das cenas mais belas que criei.” Ele se encarregou pessoalmente da restauração, feita pela Recorded Picture Company e pelo Grupo Repremiere. Bertolucci trabalhou com o fotógrafo do filme, o grande Vittorio Storaro. Usaram tecnologia digital de 4-K. A decisão de converter o filme para 3D foi dos produtores, mas o diretor admite que saiu melhor do que esperava. É seu trabalho mais popular, mas com a nova ferramenta poderá aumentar ainda mais seu público. Vale lembrar que Bertolucci queria fazer o intimista Io e Te em 3D, mas desistiu por medo do que chamou de ‘vulgaridade’ do formato. O que o fez mudar de opinião?

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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