O professor e o programa de educação de jovens e adultos em Curitiba

Em 1998, a SME-Secretaria Municipal de Educação de Curitiba realizou uma pesquisa, cujo objetivo era avaliar o programa de EJA-Educação de Jovens e Adultos. Para tanto, coletou dados que deveriam passar pelo processo de análise, de discussão e de conclusões, etapas do trabalho científico. Em 2000, quando a autora deste trabalho começou a preparar o projeto de sua tese de doutorado para o Programa de História e Filosofia da Educação da PUC-SP, manifestou à SME, a intenção de dar continuidade à pesquisa e obteve sua aprovação, consciente da responsabilidade de valorizar sua iniciativa e promover a formação continuada dos professores. O presente artigo, portanto, é resultado dessas diversas falas e olhares sobre o Programa de EJA, daquele período.

A Fundamentação Teórica foi pautada na proposta de Paulo Freire quanto à educação de Jovens e Adultos, considerando o método da educação dialógica. O diálogo crítico sobre um texto, que aborda problemas sociais, desvenda o contexto político e histórico em que professores e estudantes se inserem e isso se torna um ato de conhecimento, não apenas uma transferência de conhecimento. Para ter sucesso nessa alfabetização, é preciso partir do cotidiano dos alunos, do vivido por eles, pois a leitura de mundo precede a leitura da palavra.

Dos 251 professores de 77 escolas, que participaram desta pesquisa, 38% estavam na faixa etária entre 31 a 45 anos; 35% tinham experiência na rede municipal de ensino entre 6 a 10 anos; 63,10% com experiência anterior na EJA; e 73% com experiência em alfabetização de jovens e adultos.

A pesquisa relatou a leitura crítica de questões semi-abertas propostas pela SME para avaliar horário de permanência, intervalo entre as aulas, ficha de acompanhamento do aluno, elaboração de planejamento e Unidades Temáticas (UTs). Os professores mostraram preferência pelo horário de permanência quinzenal para preparo das aulas, pelo aperfeiçoamento pessoal e trocas de experiências, mas o ponto de maior concordância referiu-se à reformulação das UTs, utilizadas como material didático.

Nas questões referentes aos aspectos de valorização pessoal e motivação, vinculação teoria-prática, relações individuais e institucionais, mudança de paradigma, autonomia e autoridade, os professores se posicionaram por meio de uma das sete opções que variavam desde o concordo totalmente até o discordo totalmente.

Eles expressaram concordância parcial quanto a questões referentes ao sentir-se valorizados por trabalhar na EJA e à autonomia para tomar decisões; concordância nas questões relacionadas à participação e comprometimento com a escola, ao gosto pela função que exercem na EJA e à autoridade, exercida no sentido de facilitar o processo de trabalho com o aluno. Os professores concordaram totalmente com questões relativas à segurança quanto ao trabalho, às boas relações interpessoais com os colegas e à consciência da necessidade de mudar processos metodológicos utilizados até então.

Comentários finais. O presente trabalho proporcionou a oportunidade de ler nas entrelinhas as falas e as posturas, tanto de quem aplicou os questionários (SME) quanto de quem respondeu (os professores). Esse é também o ensinamento de Paulo Freire, de ler além dos fatos e do discurso. Desse modo, o objetivo de analisar os vínculos estabelecidos entre os professores e o Programa de EJA, naquela ocasião, foi atingido, pois eles demonstraram seu modo de pensar e sugeriram mudanças.

Não existe resposta única, mas várias formas de ver e sentir o mundo em construção. A partir do momento em que houve oportunidade de realizar uma pesquisa, houve a iniciativa que previa construir algo melhor, independentemente dos resultados. A partir das respostas, os professores exerceram o direito de se posicionar a favor ou contra cada um dos questionamentos, pois, como fazem os autores, trataram de seus textos e de seus silêncios como oportunidades inéditas para se praticarem sujeitos da história que só eles podem construir. A Secretaria Municipal de Educação abriu um espaço para que os professores manifestassem seus pontos de vista naquele momento histórico da caminhada pedagógica. No entanto, essa foi apenas uma das etapas da caminhada, pois ela não termina nunca, pelo menos enquanto há, algo por se fazer, e sempre há enquanto existir analfabetismo. Na vida estamos em constante processo de formação.

Sonia Maria Chaves Haracemiv

é doutora em História e Filosofia da Educação PUC-SP, professora adjunta do Departamento de Teoria e Prática de Ensino do Setor de Educação da UFPR, membro do Colegiado do Programa de Pós-graduação em Tecnologia de Alimentos – (PPGTA/TC/UFPR), vice-coordenadora do Curso de Pedagogia à distância do NEAD-UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
soniaharacemiv@bol.com.br

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