O polêmico Caetano abre show “ame-o ou deixe-o”

O show que Caetano Veloso estréia hoje, no Tom Brasil, em São Paulo, tem por base o disco A Foreign Sound, com canções americanas, que ele lançou há três semanas (e já vendeu 70 mil cópias no Brasil), mas ninguém espere os mesmos arranjos e repertório do CD. Ao vivo, ele nunca repete o que gravou e ainda inclui música brasileira, em geral, e sua, em particular, no roteiro.

“Show não é disco. Este, terá muitas músicas que estão lá, mas nem todas porque é outra perspectiva”, explica Caetano. “Lembra do Fina Estampa (com músicas latino-americanas)? Tinha o disco e depois, no show, entrou Orlando Silva, João Gilberto e todo um comentário de como aquela música era filtrada pelo gosto da canção brasileira.”

Em A Foreing Sound, entram os sambas Não Tem Tradução, de Noel Rosa (da qual ele tirou as palavras iniciais, “o cinema falado”, para título do único filme que dirigiu, nos anos 80), Manhã de Carnaval e Diferentemente, inédito, do próprio Caetano. “Fiz na época do show do Baretto, que foi embrião do atual. Pensei que não dava tempo de decorar, passar para a banda ou mesmo de estudar direito para ver se estava bom, mas toquei nos ensaios e os músicos adoraram”, conta Caetano. “Não Tem Tradução abre o show porque é sobre a influência da língua inglesa no Brasil. Em seguida, canto Baby, porque fala ‘I love you’, que o Noel disse que não poderia ter na música brasileira. Não me lembro se, quando fiz essa música, nos anos 60, pensei nisso. A idéia foi da Bethânia.”

Já a idéia de gravar o disco com músicas americanas foi dele mesmo, acalentada durante anos. Caetano já compôs em inglês (quando exilado em Londres) e gravou Beatles (em Jóia e Qualquer Coisa, dos anos 70), mas cantou pouca música americana.

É também devido ao preciosismos dos arranjos que o show não terá todas as músicas do disco, embora Caetano pretenda se apresentar com banda e orquestra de câmara (21 músicos) em quase toda a turnê, que passa por Curitiba (23 de junho), Porto Alegre (26 e 27), Belo Horizonte (2, 3 e 4 de julho), Rio (15, 16 e 17 de julho), Brasília (23 e 24), Goiânia (dia 25) e Recife (30 e 31), antes de seguir para México, Estados Unidos e Europa. “Quem arregimenta os músicos em cada cidade é o Jacquinho, que sabe onde as cobras dormem”, brinca Caetano. “Vai ser uma oportunidade rara de trocar figuinhas com músicos locais”, completa o maestro, prometendo surpresas.

A Foreign Sound já foi visto em Nova York, no Carnegie Hall, agradou e deixou Caetano Veloso satisfeito com o que saiu na imprensa americana. “No New York Times saiu um comentário legal, muito bem informado e refinado, mas no Los Angeles Times, teve um comentário breve, muito esperto”, conta. “Dizia que eu fazia um tratamento variado de um repertório idem e concluía que nem tudo funciona, mas ninguém traria uma visão tão instigante da música americana olhada de fora. Isso eu adorei.”

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