O mago do reino da fantasia

Embora a arte tenha nascido antes, foi por volta de 1915 que produtores e diretores começaram a chegar ao novo endereço do cinema – Hollywood – o então simples subúrbio de Los Angeles, que haveria de tornar-se, em pouco tempo, sinônimo de cinema mundial. Naquele famoso local estava construída a máquina que alimentava os sonhos de boa parte do mundo. A estrela e o galã – muito valorizados – constituíram as bases de um novo sistema que sustentaria por muitos anos o cinema americano, o mais importante de todos. Esse novo sistema teve um papel fundamental para o desenvolvimento da fábrica de ilusões.

No final da Segunda Guerra Mundial, profundas modificações ocorreram no cinema, período esse em que os Estados Unidos retomam o ritmo de produção, o que conseguem até o início da década de 50, quando Hollywood entraria em decadência. Por isto, muitas tentativas foram realizadas para se oferecerem espetáculos que dificilmente poderiam ser apresentados na televisão: o cinemascope, a tela panorâmica e a terceira dimensão. A tela grande não queria perder espaço para a tela pequena; entretanto, inteligentemente, o espaço seria dividido mais tarde. Aquele foi o tempo dos sonhos de muitos.

Efetivamente, a década de 50 e o início dos anos 60 foram marcados pela luta de Hollywood contra a televisão, num esforço fantástico para manter o público do cinema. Assim, à redução do número de filmes produzidos, a “Capital do Cinema” responderia com fitas luxuosas e de elevado custo. Os Dez Mandamentos, de Cecil B. de Mille, foi uma delas; Ben Hur, de William Wyler, a outra. Mais tarde, vieram: Amor, Sublime Amor; My Fair Lady; pouco antes do final da década de 60, Uma Garota Genial e 2001, Uma Odisséia no Espaço; e ainda a vistosa Cleópatra, que foi um luxo, mas um fracasso. Já na década de 70, os americanos tentam conquistar as grandes platéias, agora ligadas na televisão, com enormes investimentos na produção de filmes, tais como: Love Story, O Grande Gatsby e O Exorcista. Também as catástrofes passam a ser o tema central das grandes produções. Terremoto, Tubarão, e Inferno na Torre são exemplos disso.

Talvez não devesse incluir aqui esta consideração, que está um pouco à margem do objetivo deste artigo, mas gostaria de citar uma obra-prima dos últimos oito ou dez anos, que o grande público deixou passar e a crítica não deu a devida atenção. Faço referência a Stalin, com um desempenho magistral de Robert Duval – a reconstituição da vida e governo do temido ditador. Quem gosta de cinema do mais alto nível não deveria ter perdido uma produção cara, inteligente e completa como Stalin. (Desculpe, estimado leitor, mas quando se gosta muito de alguma coisa, pode acontecer algum excesso…)

Antes o cinema imperava absoluto no reino da fantasia, no reino dos sonhos. Hoje ele divide seu império com a televisão. A fábrica de ilusões saiu das salas de espetáculos para os aposentos domésticos, entregando a domicílio os sonhos coloridos que antes eram privilégio de certo tipo de público. Os sonhos (se é que ainda são sonhos) podem ser encontrados nos escritórios, nos estabelecimentos comerciais, em locais públicos e nas salas e quartos dos lares de muita gente. Todavia, o cinema e a televisão não são inimigos, são bons aliados.

E a magia continua… Não importa o meio ou as circunstâncias, o cinema será maravilhoso, sempre maravilhoso, para os que embalam seus corações no seu toque mágico. Afinal, para viver no reino da fantasia, não é mais necessário sair de casa, entrar numa sala de projeção e esperar que se apaguem as luzes e se exiba o filme. Basta apenas apertar um botão, bem ao seu lado ou na sua frente, e o canal de sonhos está aberto. E você deixa de sonhar quando adormece. Quando abre os olhos, a máquina maravilhosa, que alimenta a imaginação, está disponível na tela pequena.

Por mais que se faça, o cinema é em todos os momentos a fascinação, a atração irresistível, a forma incomparável de fazer sonhar, quer seja na tela grande ou na pequena. E durante muito tempo ainda nada poderá substituir a magia das luzes e das imagens em movimento. Seguramente, o cinema é e continuará a ser o mago do mundo incrível de muitas extraordinárias fantasias – excepcional imaginação que faz reviver em nós o espírito juvenil de algumas décadas passadas e nos faz sonhar acordados.

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