O inferno de Michael Jackson

Nova York – Parece que a novela Michael Jackson está mesmo longe de acabar. O jornal New York Post publicou na sua edição de domingo uma entrevista exclusiva com o tio do menino – hoje um rapaz que já está na faculdade -, que em 1993 acusou Michael de abuso sexual. Mesmo uma década depois de chocar o mundo com as declarações de que havia sido molestado, a vida da família da Califórnia continua um inferno, que nem mesmo um acordo multimilionário conseguiu dissipar.

A família teve que se mudar diversas vezes; o pai largou um belo emprego em Hollywood, fez plástica no rosto e se transformou num recluso. Segundo o tio, que não foi identificado pelo Post para proteger a família, todos estão ainda muito traumatizados pelos acontecimentos de dez anos atrás, e passam a vida com medo de represálias dos fãs de Michael Jackson. “Houve ameaças sérias. Nós as levamos bem a sério”, disse o tio. “Tão a sério que tínhamos armas. Nem meu irmão nem eu saíamos de casa sem uma pistola na época da investigação”, explicou.

O parente do menino disse que as confusões começaram no momento em que o sobrinho revelou que o astro o beijara e tocara, enquanto estavam deitados juntos na mesma cama, numa das noites que passou no rancho Neverland em fevereiro de 1993. Numa declaração oficial na época, o menino disse que o abuso começou quando ele e Michael viajaram pelos Estados Unidos e pela Europa. Ele contou que sempre dormia na mesma cama que o cantor, que costumava culpá-lo por provocá-lo a “ir mais longe”. O menino disse que nunca houve relação sexual entre os dois.

Michael Jackson nunca foi indiciado, embora tenha concordado com um acordo extrajudicial milionário. Mesmo sem a fanfarra de um julgamento criminal ou cível, os problemas continuaram para a vítima e sua família. Eles receberam ameaças de morte, tiveram a casa invadida diversas vezes, e o pai do menino chegou a ser espancado. Depois disso, bandidos apareceram no seu consultório, assustando os pacientes de outros dentistas que trabalhavam no mesmo prédio. A polícia prendeu um grupo de fãs que viajou da Inglaterra aos Estados Unidos, só para invadir a casa da família.

O jornal afirma que o pai do menino foi à polícia e falou com Bill Dworkin, o principal investigador em casos de exploração sexual, e Rhonda Saunders, a promotora distrital para terrorismo e perseguição, sobre as ameaças que a família vinha recebendo. As autoridades alertaram: “vocês têm que levar as ameaças a sério. Tudo o que se precisa é de um lunático com uma bala”. O FBI aconselhou a família a “desaparecer por alguns anos”.

Justiça

O tio garante que a família está agora rezando para que as novas acusações façam justiça. “A criança que está no centro de tudo isso tem mais chances do que tinha o meu sobrinho em 1993”, disse. Ele acredita que, na ocasião, o promotor distrital de Los Angeles, Gil Garcetti, estivesse com medo de levar a cabo um caso como esses contra Michael porque ele “era a pessoas mais famosa no planeta”: “Ele tinha certeza de que não conseguiria condenar alguém da estatura de um Michael Jackson, como aconteceu no caso O.J. Simpson. Ele queria que mais duas ou três crianças confirmassem a história”, explicou.

“Nunca houve ação criminal porque seguimos os conselhos dos advogados. Eles fizeram o acordo. Essa história de que não quisemos testemunhar nunca aconteceu. Nunca fomos perguntados”, prossegue. “Só em maio de 1994 que a promotoria decidiu finalmente indiciar Michael. Aí eles se aproximaram da família, que concordou em testemunhar, mas queria proteção. A condição era que todos entrassem no programa de proteção a testemunhas. Mas o pedido foi recusado, não sabemos por quê”, disse ele ao Post. Quando o jornal entrou em contato com o escritório da promotoria em Los Angeles, uma porta-voz disse que as ameaças à família não foram consideradas “sérias o suficiente”.

Astro se defende na internet. Liz apóia

Do outro lado do front, Michael Jackson se agarra à internet e aos amigos famosos para se defender. Ele está usando um site novo para dizer aos fãs que as acusações de abuso sexual “são baseadas numa grande mentira”, e que ele será inocentado no tribunal. O porta-voz do artista, Stuart Backerman, disse na semana passada que Jackson estava montando o site para que ele pudesse se comunicar com os veículos de mídia e com os fãs.

Numa declaração de seis parágrafos publicada em www.mjnews.us, Michael afirma que o site servirá de fonte para “comunicados oficiais sobre o meu caso”. E continua: “Como vocês sabem, as acusações recentemente impostas contra mim são terrivelmente sérias. Mas são, entretanto, apoiadas numa grande mentira. Isso vai ficar claro no tribunal, quando seremos capazes de deixar esses tempos horríveis para trás”.

Enquanto isso, Elizabeth Taylor quebrou o silêncio para defender o amigo íntimo e criticar a cobertura da imprensa. Antes Liz havia se recusado a dar declarações sobre o astro, que em 1991 promoveu a festa de casamento da atriz no rancho Neverland.

Liz comentou: “Acredito que Michael seja inocente e que ele será vingado”. Num comunicado distribuído neste fim de semana à imprensa, ela também criticou a cobertura da mídia e a maneira como a história foi divulgada. “A reação de todo mundo é como se ele fosse culpado”, disse. “Eu achava que a lei dizia que somos inocentes até que nos provem culpados”, concluiu.

Jackson se entregou às autoridades do condado de Santa Bárbara na quinta-feira, atendendo a um mandado de prisão por abuso sexual de menores, crime que prevê pena de três a oito anos na prisão. Ele foi solto depois de pagar fiança de US$ 3 milhões, e voltou a Las Vegas no mesmo dia. As autoridades disseram que as queixas formais serão apresentadas em algum momento logo após o feriado de Ação de Graças, nesta quinta-feira. Michael Jackson disse que seus advogados o instruíram a falar o mínimo possível sobre o caso.

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