O Hospital da Cruz Vermelha

A Cruz Vermelha do Paraná tem uma bonita história desde sua fundação em 22 de abril de 1917, por destacadas figuras da sociedade curitibana, que pertenciam ao famoso Grêmio das Violetas. Hoje, tem à sua frente há 37 anos, o médico e escritor Lauro Grein Filho que, com liderança, vem desenvolvendo campanhas e serviços de voluntariado, primeiros socorros e o envolvimento de povos de todas as nações em busca da paz , do humanismo e da valorização dos direitos humanos.

A criação do Hospital da Cruz Vermelha do Paraná tem uma história que foi testemunhada e, até certo ponto, protagonizada pela médica Nana de Carvalho Sondahl.

“A criação do hospital foi minha sugestão”, comenta ela. “Aramis Athayde era presidente da entidade – seção do Paraná quando eu estava tentando montar meu escritório particular, recém-formada em Medicina. Era o final da década de 30 e início dos anos 40, e o Brasil acabava de entrar na guerra, (Segunda Guerra Mundial).”

“Então o Dr. Aramis me convidou para trabalhar como secretária-executiva da Cruz Vermelha – seção Paraná. Fiquei na função durante três meses e acabei encotrando em uma sala envidraçada, sem janelas, cheia de papéis, uma escritura da Cruz Vermelha anexa ao Hospital Cesar Pernetta, na Rua Silva Jardim. O Dr. Aramis sabia que o Hospital Cesar Pernetta tinha um terreno na Avenida Vicente Machado,e tivemos a idéia de pedir a dona Anita Ribas, esposa do então interventor Manoel Ribas ,a permuta entre os terrenos.”

A dra. Nana desistiu da idéia que tivera, junto com outros colegas, (Antônio Jorge Ribeiro de Camargo e outros) de criar um pronto-socorro na Praça Tiradentes e passaram a se dedicar à criação do mesmo serviço na Cruz Vermelha. Nana passou a recolher os donativos e, sentindo necessidade de praticar o que tinha aprendido na faculdade de Medicina, ficou como “residente” do hospital, morando em um pequeno apartamento dentro da entidade, que depois viria a ser ocupado por outras pessoas.

Com a notícia da guerra, em 1939, Nana foi encarregada de convocar as enfermeiras samaritanas, e o anúncio foi feito na rádio PRB2. “Concordei com a convocação, contanto que as mulheres não fossem para a frente de combate”, salientou ela. O então major Henrique Moss de Almeida garantiu essa prerrogativa, acompanhando os anúncios na rádio.

“Eu usava de critério para selecionar as moças”, afirma Nana. “Havia aquelas que queriam ir para a guerra em busca de aventuras ou para morrer, mesmo, então essas eu dava um jeito de dispensar.”

“Fui professora delas em Fisiologia, Puericultura e Anatomia.” “Convidei depois o dr. Hamilton Luiz Antônio de Azevedo para as aulas de Anatomia.”

“Quando foi a formatura, com baile e tudo, não aceitei ser paraninfa, porque esta tinha que ser a mulher do governador ou a do general. As alunas me ofereciam vestidos de festa emprestados, julgando ser esta a causa da minha recusa.” (A dra. Nana está no quadro de fotos das samaritanas, ao centro, ao lado do dr. Hamilton ,como homenageada).

(Umas das jovens que foram para a Itália, ela não recorda os nomes, mas eram das famílias Chaves e Santana.)

Nana é reservista de guerra aspirante, porque, segundo ela, no Exército não havia carreira para médica, somente para enfermeira.

Uma senhora que foi muito importante na história do hospital foi Sarita Leme de Siqueira, esposa de um advogado, que comprou todo o material médico para a Cruz Vermelha nos Estados Unidos.

“O Estatuto da Cruz Vermelha é tão bem feito que você pode governar um país com ele”, encerra Nana de Cravalho Sondahl.

Na paz e na guerra, o humanismo acima de tudo

Ultimamente temos meditado muito sobre a paz e a guerra, principalmente diante da eminência de deflagração do conflito entre Estados Unidos e Iraque.

Imediatamente vêem-nos à memória cenas de filmes como “O Resgate do Soldado Ryan” e passamos a lembrar de nossos pracinhas na Itália e/ou de pessoas conhecidas que viveram de perto todas as brutalidades dos campos de combate. Este combate parava, repentinamente, e entravam padioleiros anunciados por bandeiras brancas com uma cruz vermelha ao centro. Quem seriam? Certamente os representantes do último resquício de humanismo existente em uma guerra: a Cruz Vermelha.

Foi no campo da batalha de Solferino, norte da Itália que a visão de tantos feridos aos quais os serviços de saúde não podiam ajudar, sensibilizou Henri Dunant (1828 – 1910)a escrever um livro. Intitulado ” Recordações de Solferino” e publicado em novembro de 1862, comoveu a consciência mundial da época. Relatando suas lembranças dramáticas, nas últimas páginas Dunant sugeriu a criação de uma sociedade de socorro de caráter nacional regida por regras humanitárias. “Não haveria um meio de, em tempos de paz, organizarmos sociedades cujo fim proporcionaria cuidados aos feridos em tempos de guerra? “Não seria de desejar que um congresso formulasse princípios internacionais sagrados que servissem de base às sociedades?”, indagava ele.

Uma comissão especial se formou e no ano de 1863 fundou-se a Sociedade Genebresa de Utilidade Pública ,composta pelos doutores Maunoir, Appia, Gustave Moynier, General Dufour e o próprio Henri Dunant. Seu objetivo era executar soluções práticas ao apelo lançado no livro “Recordações de Solferino”. De 26 a 29 de outubro do mesmo ano reuiu-se em Genebra uma conferência internacional congregando representantes de 16 nações.

Foram criadas então dez resoluções e três moções que deram origem à Cruz Vermelha. Elas previam ,entre outras medidas, a criação, em cada país, de um comitê de socorro que ajudaria, em tempos de guerra, os serviços de saúde dos exércitos; a formação de enfermeiras voluntárias em tempos de paz; a neutralização das ambulâncias, hospitais militares e pessoal de saúde e a adoção de um símbolo distintivo uniforme, uma braçadeira branca com uma cruz vermelha. Em 22 de agosto de 1864 a “Primeira Convenção de Genebra para a Melhoria da Condição dos Feridos nos Exércitos em Campanha” foi assinada nessa cidade e ratificada por 55 países.

No ano de 1901 Jean Henri Dunant recebeu o primeiro Prêmio Nobel da Paz.

Zélia Maria Nascimento Sell

é do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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