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O encanto destoante do Pinback ainda vive

Nos versos criados há 18 anos, Rob Crow, uma das metades criativas da dupla Pinback, questionava o que há de feliz e melancólico no mundo ao seu redor. “Por que as pessoas bonitas parecem estar tristes?”, diz um dos versos de June, faixa que encerra o primeiro EP da banda, Some Voices, lançado em 2000. Existiam, naquelas palavras cantadas por Crow e por Zach Smith e acompanhadas por violinos, bateria e piano, uma melancolia inerente. Noutro verso da mesma canção, eles martelam o mesmo sentimento: “Por que eu pressuponho que tudo é amargo?”.

Agora com 46 anos e idas e vindas do Pinback e na indústria da música, Crow voltou a ouvir as canções do início de carreira, mais precisamente dos dois EPs responsáveis por catapultar a banda, o citado Some Voices, de 1999, e Offcell, lançado quatro anos depois. Reuniu as nove músicas contidas nesses discos em um álbum em vinil especial, remasterizado. Ao encarar a si mesmo e suas visões de mundo na porta dos 30 anos, Crow compreendeu que ele, hoje, é dolorosamente o mesmo do que aquele de quase 20 anos atrás. “O que me faz perceber, contudo, é como mudamos a nossa forma de escrever, criar música”, ele explica. “É curioso porque não sabíamos absolutamente o que estávamos fazendo. Era um pouco desequilibrado. Fazíamos de uma forma até descontrolada (risos).”

O Pinback, banda que ajudou a fomentar a criação de uma nova geração de power pop na virada do século, está em um momento de celebração da obra – formada por cinco discos de estúdio no total. É nessa revisitação da carreira que o grupo vem a São Paulo pela primeira vez. A banda se apresentará nesta quinta-feira, 11, e sexta, 12, sempre às 21h30, no Sesc Pompeia.

A programação foi organizada para celebrar os 5 anos do selo indie paulistano Balaclava Records. Crow, por sinal, fará uma apresentação solo no sábado, 13, na Breve, localizada a poucos metros do mesmo Sesc Pompeia, para apresentar o projeto solo dele, cujas atividades têm sido muito mais frequentes do que com o Pinback. No ano passado, por exemplo, ele criou uma nova banda, chamada Rob Crow’s Gloomy Place, para acompanhá-lo no álbum You’re Doomed. Be Nice. Com seu disco mais recente, Crow mantém a visão pessimista do cotidiano. O título indica tudo: “Você está perdido, seja legal”, diz em uma tradução literal.

O trabalho surgiu depois que Crow decidiu largar tudo – Pinback, projetos paralelos, a música como um todo -, para se dedicar exclusivamente à família. Nas suas redes sociais, em 2015, ele publicou um texto no qual dizia adeus. “Acabei de perceber que fazer música dessa forma é financeiramente irresponsável para minha família e, em última análise, humilhante para a minha psique”, dizia o texto.

Algo mudou, segundo o músico, a partir da ideia de parar de beber bebidas alcoólicas. “Eu realmente precisava abandonar isso. Queria ser um marido e um pai melhor”, diz ele, com uma prole de cinco filhos. “Era inviável manter aquele ritmo. Eu mudei. Precisei disso. Perdi 100 pounds (45 quilos).” A família de Crow foi importante para que ele voltasse a se dedicar à música. “Eles me mostraram que gostavam do que eu fazia. Me disseram que eu não deveria parar, mesmo. No fim desse longo processo, eu voltei.”

O Pinback, contudo, não está com planos concretos. Personalidades artísticas tão diferentes, Crow e Smith têm dificuldade de se juntar para criar música atualmente. “Com o passar dos anos, fomos nos distanciando musicalmente.” É justamente o que faz o Pinback interessante – esse encontro destoante – também pode ser sua maldição. “Sempre quero soar mais esquisito.”

PINBACK

Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia, tel.: 3871-7700. 5ª (11) e 6ª (12), às 21h. R$ 12 a R$ 40.

ROB CROW SOLO

Breve. Rua Clélia, 470, Pompeia. Sáb. (13), às 20h. R$ 35 (antecipado) ou R$ 45 (na porta).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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