Novo programa de Tom Cavalcante se passa em um shopping

O retorno de Tom Cavalcante ao Brasil não implica um retrocesso em relação aos projetos plantados em Los Angeles, onde fez lá seus contatos com a indústria do cinema. “A demanda é grande, sempre pode aparecer uma oportunidade de se misturar o humor brasileiro com o americano”, acredita. Entre uma resposta e outra, acompanhado pela mulher, Patrícia Lamounier, Tom brinca de falar em timbre de Silvio Santos, o que é infalível para quem está em volta. Sabe seduzir com humor certeiro, quase do palhaço que gosta de ser, e assim foi diante dos agentes com quem conversou nos EUA, onde rapidamente captou o jeito Obama de discursar.

O primeiro dos dois programas no Multishow será gravado nos estúdios Quanta, disputado espaço da indústria do audiovisual, na Vila Leopoldina, em São Paulo. Ali, a produtora Fremantle reproduzirá o cenário de um shopping center, mote do enredo, com plateia.

Como será o primeiro programa no Multishow?

Essa é uma ideia que eu tinha na gaveta, de fazer um programa de comédia com cenário de um shopping, com todo tipo de situação que se passa em um shopping, e são muitas, as mais inimagináveis, de rolezinho a flagras de namorados ou roubo de joalheria.

São esquetes?

Não, para cada episódio há um enredo. Conceitualmente, o pano de fundo é a família que é dona do shopping. O patriarca morre. E eu, que trabalho lá como segurança, sou um filho bastardo dele. Então, a família tem um plano de acabar com a minha vida, para a fortuna ficar na mão deles. Só que, dentro desse contexto do segurança, vou ser um herói, porque vou negociar com o sequestrador da joalheria e participar de todo tipo de situação. Vai que um dia a Ivete Sangalo visite o shopping e faça lá um show, porque tem uma pracinha com palquinho de apresentações artísticas – e é verdade: tem shopping que tem isso – quem vai cuidar da visita da Ivete sou eu. Na minha função, participo de tudo.

E está previsto um outro programa. Já sabemos como será?

Ah, o outro a gente ainda não sabe o que vai ser, vamos deixar esse aqui pegar o trilho e depois a gente pensa no outro.

Como se deu esse romance com o Multishow, que traz você de volta ao Brasil?

O Multishow definitivamente abriu as portas para o humor nacional. Eu já tinha recebido algumas propostas lá, mas TV aberta, no momento, não interessava. E como eu já vinha percebendo esse momento no Multishow, quando apareceu uma proposta daqui eu disse, ‘ah, interessante’.

Quanto tempo ficou em Los Angeles?

No total, uns dois anos, mas, morando mesmo, um ano e três meses. Falei para a Patrícia: ‘Quero sair do Brasil e passar uns dois anos lá’, e me preparei muito para isso, não é fácil largar tudo aqui. A gente tem funcionários, escritório, filho, escola, realmente é uma revolução, tem que parar tudo, mas eu me arvorei e consegui.

Por que você não participou dos episódios inéditos do ‘Sai de Baixo’ gravados pelo Viva no ano passado? Não foi convidado?

O Miguel (Falabella) me convidou. Eu estive na peça do Miguel. Eu vibrei, e só agora estou tendo a oportunidade de ficar em casa. Vendo pelo Viva, vejo que foi muito legal.

E não veio por quê?

Eu estava em Los Angeles, estudando, não dava para vir para gravar. E lá era estudo todo dia – para morar lá, eu tinha que estar estudando, não podia me ausentar. Era escola de inglês e cinema. Só que a escola, se você faltar, no final pode comunicar o governo que você não cumpriu as suas metas e podem te botar fora do país.

Você estava lá oficialmente como estudante.

Como estudante. Tinha que ser. E aí, concomitantemente, como eu estava num processo de conhecer agentes, levar meu portfólio para os grandes agentes internacionais, de Jim Carrey, de Adam Sandler, os caras ficaram encantados com o meu histórico – eu tenho uma historinha já de 20 anos. O interessante é que, quando você chega na sala do cara, a agência contratada já mandou todo o seu histórico em inglês e o cara já sabe tudo sobre você. Eu queria uma oportunidade dentro de um filme, e a demanda, mesmo sendo grande, podia ser uma oportunidade. Queria misturar esse humor brasileiro com o americano. Acho que seria muito interessante. Meu nome está nesse processo.

Você fez alguma imitação específica para eles?

Do Obama, e aí, simultaneamente, comecei a fazer um média-curta-metragem. E me juntei com uma turma de Los Angeles: contratei (eu que banquei a brincadeira) atores americanos. Eu queria entender, dentro da célula, como é o processo deles.

E a gente vai ter acesso a isso?

Vamos, daqui a pouco vamos lançar. Chama-se Pizza me Máfia. Fiz lá, com americanos, um diretor brasileiro, o Gui Pereira, que é um menino de 22 anos, mas é um aviãozinho. Têm muitas surpresas nos Estados Unidos. Descobri também o Rodrigo Teixeira, um brasileiro de Pelotas que ganhou até Oscar, por Hugo Cabret – ele estava na equipe de efeitos especiais.

Durante muito tempo, disseram que você era nome vetado na Globo. Agora, de volta ao grupo, podemos dizer que isso não existe ou que veio o “perdão”?

Está tudo bem, mas agora é que vou ver. Acho que, se existiu ressentimento, era de alguns. Não do elenco, mas de pessoas da direção, mas saiu muita gente de lá pra cá. Eu sou do tempo de Mário Lúcio Vaz, Manoel Martins, tenho muitos amigos lá, mas existem dois diretores que não me querem e não descobri quem são. Houve essa reestruturação e me convocaram de novo, e eu tô aí, cheio de gás, muito feliz.

E na Record, a rescisão de contrato foi mesmo por falta de interesse das duas partes?

Na Record, eu não estava feliz. Fiquei sete anos lá, instalei um núcleo de humor e, a partir daí, tudo girava em torno de mim: como editar, como fazer um roteiro de humor para TV aberta, como dirigir. Tudo passava pela minha supervisão. Humor não é novela – é preciso que exista um time. Em sete anos, não aguentava mais. E a estrutura era pequena, um só teatro. Mas não teve briga, foi de boa.

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