Nossa língua não se discute, respeita-se!

Para alguns, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia de Ciências de Lisboa, aprovado pela Academia Brasileira de Letras em 1942, alterado pela Lei n.º 5.765, de 18 de dezembro de 1971, foi organizado não para simplificar e padronizar, mas para trazer complicações desnecessárias. É a opinião de alguns (incluindo a de uns poucos amigos e colegas, cuja opinião respeito e aos quais admiro).Contudo, não penso da mesma maneira; ou melhor, não concordo com eles.

Acho que a nossa língua (particularmente, a ortografia, que é a parte da gramática que ensina a escrever as palavras corretamente) está acima de discussões deste gênero, porque é credora do respeito de todos nós – é a nossa própria identidade e nos dá o sentido de Pátria juntamente com outras manifestações. Portanto, não me parece que os respeitáveis membros de nossa Academia deixem de fazer um trabalho meritório em favor das letras portuguesas. Fazem-no sim, senhor! Felizmente, temos homens e mulheres ilustres que dão sustentação ao respeito à nossa língua – o que é também uma forma de patriotismo.

Dito isto, posso agora ingressar na palavra e na escrita – que se assentam na língua de todos nós, que pertencemos ao mundo de raízes lusófonas – cujo dueto de sons e sinais nos traria dificuldades se não houvesse regras e o devido ordenamento. Embora possa parecer que não, é exatamente por causa das regras e do ordenamento que a língua é mais bela. Claro que os escritores e oradores têm uma certa liberdade de utilizarem palavras e termos que a língua dita culta, desaconselha, mas que fazem parte do dia-a-dia da população. E isto também é considerado por aqueles a quem cabe ser os atalaias das letras patrícias.

Entretanto, quem (como eu e outros confrades) fala e escreve para ouvintes e leitores, dentro da comunicação social, deve ter muito cuidado com o que diz e escreve; da mesma maneira deve ter consciência de como este fato relativo à sociedade tem influência didática e exemplar no comportamento de tais pessoas, que se miram nos modelos dos que discursam e escrevem, pensando que estes estão fazendo tudo de modo certo. Fica implícita, por conseguinte, a responsabilidade do comunicador em permitir aos receptores receberem uma mensagem “limpa”; ou seja, que se entenda, sem ruídos, e corretamente emitida. Isto também significa não discutir, mas respeitar o que se fala e o que se escreve -acatar a língua, enfim. Com a humildade de quem continua apreendendo (e tenho ainda muito a aprender), desejo contribuir neste sentido, sem esquecer os motivos que levam o comunicador a querer comunicar-se, que é compartilhar avaliações, críticas, elogios, conhecimentos, experiências e emoções. Contribuição com os olhos postos na correta ortografia, na semântica e na semiologia.

Se me é permitido, gostaria de concluir o escrito desta coluna, no dia de hoje, repetindo com perseverança que não há nada a discutir sobre a língua portuguesa, porém, tão-somente há o que respeitar. E isto não significa que não se dê atenção aos que têm algumas diferenças para acertar, perguntas a fazer sobre este assunto ou discordem da minha posição. Mesmo assim, ou apesar desse grupo, não me é facultado (e aos que falam e escrevem para um bom número de pessoas) deixar de atender o chamado em defesa da língua, para que não se contagie, em dose dupla, com o vírus da apatia e do descuido.

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