No ritmo manso de Paulinho da Viola

Curitiba só recebe agora o documentário milagroso que promoveu, ainda que de forma induzida, a reconciliação de Paulinho da Viola com o ministro Gilberto Gil, sob as bênçãos do presidente Lula: Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje, de Izabel Jaguaribe, com roteiro de Zuenir Aventura, estréia hoje às 15h na Cinemateca.

Trata-se de uma incursão lírica pelo tempo peculiar do compositor carioca: “Vivo num mundo mais lento, senão entro em pânico”, costuma dizer, com sua voz mansa. Resistente em princípio à idéia de protagonizar um filme – mesmo um documentário -, o sambista acabou cedendo à história “centrada no tempo, e não em questões mais pessoais, dramas íntimos que todos temos”.

E o ponto de partida foi a sua confissão de que é incapaz de sentir saudade. Tem a música do passado viva na alma, o que não permite que ele sinta falta “dos bons tempos”. Esta curiosa relação do personagem com o tempo foi o que moveu Izabel e Zuenir, e determinou a captação de várias horas de conversas e depoimentos de Paulinho e da família, além dos encontros musicais com amigos registrados.

Facetas

“Através desse item do tempo, fomos tecendo o caminho por onde ia passear o documentário e descobrindo várias facetas. Surgiu o Paulinho marceneiro [interesse que carrega desde a infância], o que joga sinuca [semanalmente], o que conserta carros [um mesmo automóvel, durante décadas]”, conta a diretora. E assim, partiu-se do tempo e da ausência de saudade para encontrar o sambista imerso nas tais “questões pessoais” que ele pensou em evitar.

Mas tudo isso fica pequeno diante do gigantismo da música de Paulinho. Ou, como resumiu o crítico Arthur Nestrovski: “A grande força do filme é nos pôr bem perto da música. Nada bate as imagens de Paulinho cantando e tocando violão ou cavaquinho. Seja em casa, seja na marcenaria, num estúdio, ou ao ar livre, seja sozinho, seja na companhia de parceiros como Elton Medeiros (tocando sua incrível caixa de fósforos), Marisa Monte ou a Velha Guarda da Portela, Paulinho da Viola fazendo música nos redime da falta de palavras, da falta de imagens, da falta de quase tudo”.

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