Ney Latorraca usa da experiência para dar cor ao seu vampiro

Era uma das primeiras cenas de “O Beijo do Vampiro” embaladas pelo impagável Ney Latorraca, intérprete do vampiro Nosferatu. Contracenando com ele estava Deborah Secco, a Lara da novela. Claro que os técnicos e o diretor da cena, Roberto Naar, não demonstraram, a princípio, nenhum tratamento diferenciado.

Mas, com as manifestações hilárias de Ney, fica difícil não se contaminar com o bom humor. Logo ao chegar, Ney trocou algumas falas com Deborah, perguntou o nome de cada envolvido na cena e deu parabéns à toda equipe. “Que cenário lindo, que profissionalismo!”, elogiava o ator. A cena, aliás, constava de um diálogo entre os dois personagens, quando Nosferatu critica a falta de conhecimentos de Lara, mas elogia o corpo escultural da vampira, que está de olho em mais um poderoso sanguessuga. Atentos às instruções do diretor, os atores levam a sério os trejeitos dos personagens e, de tão envolvidos, pedem agilidade. “Vamos começar isto logo, Ney?”, sugeria Deborah.

Os ensaios para a esperada gravação foram exaustivos, mas Ney dava conta de descontrair o ambiente, mesmo que o cenário mórbido da sala de Nosferatu remetesse ao sombrio e ao medo. Ainda nos ensaios, Ney esqueceu parte do texto, mas improvisou, naturalmente, parte de sua fala. “Posso falar isso, Roberto?”, perguntou o ator, que ouviu prontamente uma resposta afirmativa do diretor. Já nos primeiros momentos, percebia-se que a interação entre Deborah e Ney era perfeita. Nem dava para perceber que Ney estava gravando suas primeiras cenas em “O Beijo do Vampiro”.

A demora para o início das gravações e a constante movimentação das cerca de 20 pessoas envolvidas deixaram Ney impaciente. “Pessoal, vamos gravar”, insistiu. Os pedidos do ator foram atendidos e Roberto Naar autorizou a gravação. Ney, ou melhor, Nosferatu, começou a cena tocando piano, de uma maneira tão plácida, que soava muito realista, ainda que a ausência de som nos estúdios tirasse um pouco do encanto. Novamente, Roberto interrompeu a cena para arrumar o cenário, mudou o espelho de lugar – Nosferatu tem um espelho igual ao do Duque Bóris, personagem de Tarcísio Meira – e solicitou que os atores se posicionassem da maneira correta. “Abaixa o queixo, Deborah”, solicitou Roberto. Dada a partida para o recomeço da cena, tudo fluiu de forma natural, até que Ney esqueceu o texto outra vez. Como até os cinegrafistas já haviam decorado o diálogo, rapidamente lembraram o ator sobre o que deveria falar. Os esquecimentos de Ney levaram o diretor a repetir a gravação e a explicar a cena de maneira exaustiva, para que, finalmente, ela fosse concluída.

Aguardando a próxima tentativa para concluir a cena, Ney e Deborah se descontraíam posando para os fotógrafos presentes e admirando os próprios figurinos. A roupa de Deborah não mostrava novidades – o típico longo preto, que exalta o lado sensual da personagem Lara. Ney usava uma roupa cor de vinho e um sapato de laços, que serviam mesmo para ressaltar o lado cômico de Nosferatu, um vampiro que se acha o melhor, não perde a pose, mas que se destaca mesmo pelo humor sarcástico. “O figurinista está de parabéns, a minha roupa é linda”, repetia o ator. Percebendo a impaciência, o diretor pediu que aguardassem, pois estava ajustando uns problemas de luz, que persistiam em acontecer.

Quando finalmente a gravação foi retomada, os pequenos problemas foram esquecidos e a cena, gravada direto, sem interrupções. “Foi ótimo, maravilhoso”, vibrou Roberto Naar. Os elogios não partiam só do diretor. Ney e Deborah eram uma “rasgação de seda” só. “Deborah, você foi deslumbrante. Está maravilhosa neste personagem, mais bonita do que nunca”, empolgou-se o ator. A atriz não deixou por menos. “Ney, você é uma das pessoas mais espetaculares que já conheci. É de um talento e uma nobreza sem fim”, revidou Deborah.

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