Nego Pessôa tira de letra

O cronista Carlos Alberto Pessôa, de largo trânsito tanto pelas páginas de jornais de Curitiba quanto por suas boêmias madrugadas, tanto gosta de escrever -“acho que levo jeito”- que reúne sua produção em mais de 300 páginas no livro De Letra. Sobre a obra e o autor, segue-se este bate-papo:

– Quando veio o gosto de ler e escrever?

– Desde menino, quando era o melhor da turma no quesito redação. Claro, tenho vantagens sociais sobre o resto dos mortais. Assinava jornais e revistas, minhas irmãs eram professoras, meus irmãos falavam de política, minha casa recebia torrentes de visitas, a farmácia do meu pai era ponto de encontro em Irati. Era ouvinte atento, interessado. Lia os jornais e as revistas; ouvia rádio. Estudei em bons colégios. Estamos na década de 50.

– Escriba é sua profissão?

– O fato de ter recebido boa herança financeira e patrimonial ali pelos 20 anos me prejudicou profissionalmente. Porque nunca levei profissionalmente a sério nada; tive de endurecer para virar um profissional, um escriba, jornalista. Não me arrependo. O jornalismo tem a minha cara. É a profissão dos não profissionais. Isto é, dos caras que não sabem fazer nada na vida. Ou não sabem fazer outra coisa na vida. Aleluia!

– Como foi gerado De Letra?

– Ao nascer revelou de cara uma glória visual. Muito bem feito, caprichado pela Travessa dos Editores, a editora, claro. A capa arrasa quarteirão, o papel é um desbunde, as ilustrações, orgasmáticas, o tipo é lindo, a entrelinha é generosa, generosas são as margens, adrede preparadas para os elogios e encômios. E as orelhas, hein? Que maravilha! São da lavra do Luiz Roberto Soares. Craque. Ele elevou meu pobre ego à estratosfera. Com uma generosidade excessiva. Coisa de amigo, de irmão.

– Mas tem mais amizade…

– A apresentação não poderia ser de outro senão o José Maria Orreda. De Irati. O nosso Plutarco. Ele só não saiu de lá para não empobrecê-la. Outro craque. Tem uma obra magnífica sobre a nossa cidade. A história dele é original, muito bem escrita. Na verdade, ele faz uma muito legível etnografia. E a sua apresentação é uma glória.

– 0 livro abrange que período?

– Não fosse a pressão do Fábio (Campana), amigo e editor, não me animaria a reler todo o material escrito em seis anos, quase dois mil dias de 1.800 caracteres! O livro é o sumo desse trabalho braçal, o extrato. Recolhido, separado por mim mesmo. Ou como se diz lá em Irati na colônia polonesa: suzinho escolhi.

– Relacione os créditos necessário, pois pouca coisa neste mundo se faz sem ajuda. Não é?

– Nessa altura devo dar os créditos, os merecidos créditos. A editora é a Antônia Schwinden. A capa, ilustrações são da lavra do Carlos Dalla Stela. Dois craques. Palmas para eles que eles merecem.

– Futebol é um tema de sua predileção.0 livro é sobre isso?

– Atenção! O livro não é apenas sobre o velho e rude esporte bretão. O livro é sobre esporte em geral. E sobre gente, especialmente sobre gente, muita gente – heróis e pulhas. Como na vida real. Mas também tem, sim, muitas idéias heterodoxas. Sobre os treinadores, sobre os árbitros, sobre as torcidas, sobre os cartolas, sobre o calendário, sobre a economia e as finanças do futebol profissional no Brasil.

– Sua fama de grosseiro justifica-se no livro?

– Em mais de uma página faço exercícios de ironia: espero que o leitor capte o espírito da coisa. E em determinados pontos não resisti: tive de ser grosso. O que fazer? O ambiente tantas vezes é irrespirável, não merece respeito.

***

Autógrafos amanhã no Bar Brahma (Av.Getúlio Vargas, 234), às 19h. Para saber mais:

www.negopessoa.com

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