Negado envenenamento de Napoleão

Paris

– Napoleão teria sido envenenado em Santa Helena, essa minúscula ilha no meio do Atlântico, onde foi encarcerado pelos ingleses depois da batalha de Waterloo (1815) e onde morreu em 1821? – Não, isso não! Esta tese é original, romanesca trágica e causa furor desde 1961, quando um estomatologista sueco (Sten Forshfyuld) a espalhou pelo mundo inteiro, depois de descobrir arsênico nos cabelos do imperador, guardados como relíquias. A partir de então, outros pesquisadores confirmaram a tese do sueco.

Um milionário canadense, apaixonado por Napoleão, a apoiou em vários livros.

Por sua vez, institutos extremamente sérios analisaram os augustos cabelos obtidos em diferentes momentos da vida de Napoleão. Todas as análises estão de acordo: estes cabelos estavam cheios de arsênico. E em doses inteiramente anormais. Daí a conclusão: Napoleão foi envenenado.

Hoje, tudo mudou. Napoleão não foi envenenado. (A revista Science et Vie o garante na edição deste mês). As doses de arsênico são efetivamente tão pesadas que o imperador deveria ter sucumbido pelo menos três vezes. Portanto, é preciso concluir que o arsênico não era originariamente “endógeno”, mas “exógeno”.

E como esse arsênico pôde se aninhar nos cabelos imperiais? O arsênico seria proveniente de “poluição externa”. Por exemplo, da calefação então feita com lenha, porque o imperador era muito friorento e fazia sua chaminé roncar e fumegar todos os dias. Ou ainda teria vindo da cola do papel pintado de seu aposento real. Ou então, da “matança de ratos”, porque constantemente se utilizava o arsênico para isso, pois a ilha de Santa Helena estava infestada desses roedores.

Contudo, nada disso parece ser suficiente para explicar tão grande intoxicação com arsênico. Surge então outra hipótese: no século XIX, o arsênico era utilizado para preservar os cabelos. Seria então uma coisa simples: o arsênico teria sido usado para conservar estes cabelos, analisados dois séculos mais tarde para se descobrir que eles contêm arsênico!

Finalmente, a saúde do imperador estava bastante deteriorada, a tal ponto que não seria preciso invocar o arsênico para explicar sua morte. Ele sofria do estômago, de úlcera gástrica ou câncer em conseqüência de uma úlcera. Para os médicos, não há dúvida: Napoleão morreu em conseqüência de um câncer gástrico.

Observemos de passagem que outro médico sério, o dr. Greenblatt, diagnosticou outra miséria que teria afetado o ilustre corpo do imperador. Ele teria contraído a síndrome de Zollinger-Ellison, uma doença hormonal que tem a divertida capacidade de transformar um corpo masculino em corpo feminino. Napoleão… uma dama?!

O interessante é que esta suposição permite complementar os estudos médicos com interrogações históricas. E a questão é saber quem poderia ter desejado a morte de Napoleão por envenenamento: perdido para sempre, isolado em sua ilha longínqua, ele não fazia mais ninguém tremer de medo.

Então? Ciúme? Entre os franceses que acompanharam Napoleão a Santa Helena, estava o conde de Montholon. Ora, Montholon tinha uma mulher bonita. E Napoleão sempre gostou das damas, embora, ao que parece, ele as amava com uma rapidez exagerada. Portanto, Napoleão teria dormido com Madame Montholon. E então Montholon teria colocado arsênico na comida do imperador.

Tudo isso procede do romance. O melhor conhecedor francês de Napoleão, Jean Tulard, zomba de tudo isso. E assim um enigma napoleônico fica desqualificado. Que pena! A gente estava se divertindo tanto! Mas não nos perturbemos! Em primeiro lugar, não podemos duvidar que, muito em breve, outro especialista nos provará o envenenamento. Depois, mesmo que isso não tenha ocorrido, outro mistério já está pintando no horizonte.

Os ingleses entregaram os despojos de Napoleão à França em 1840. Houve funerais grandiosos, etc, etc… Mas, segundo pessoas bem informadas, os ingleses tiveram o cuidado de substituir o corpo morto de Napoleão pelo corpo do mordomo de Napoleão. Cipriani.

Vamos usufruir esta nova hipótese, porque, algum dia, será feita uma análise de DNA dos despojos imperiais. E então se deverá admitir que o corpo de Napoleão é mesmo o de Napoleão. Sagrado DNA! Pouco a pouco, ele irá quebrando todos os nossos mistérios, dissipando todos os nevoeiros. E nos privará de toda poesia!

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