Música caipira ainda reserva boas surpresas

O que têm em comum um virtuoso violonista paulistano de 26 anos, que estudou regência na Holanda, um mestre da música caipira, falecido em 1998 aos 89 anos e um violeiro de Cuiabá, nascido em 1895, cego desde os sete anos, e que viria a se tornar um dos fundadores do violão brasileiro? Os três, Leandro Carvalho, João Pacífico e Levino Albano Conceição, são as estrelas do CD Leandro Carvalho e o Brasil de João Pacífico, lançado com apoio do governo de Mato Grosso e patrocínio da City Lar.

O interesse do jovem violonista pela obra de João Pacífico surgiu da convivência com o mestre, nas serestas promovidas pelo pai de Leandro, Joacir, em que Pacífico era presença obrigatória. “Eu via e ouvia aquele `garoto’ com olhos de menino, fascinado e absorvido pelas violas e violões que o acompanhavam, revelando em cada nota a essência da nossa gente. João declamava, cantava, brincava e sorria, e enchia de lágrimas os olhos atentos do meu pai”, lembra Leandro Carvalho.

Iniciado em 1998, o disco reúne treze composições de João Pacífico declamadas pelo próprio ou cantadas por nomes como Jair Rodrigues e Tinoco, da dupla Tonico & Tinoco. Era para ser uma homenagem de Leandro aos 90 anos do mestre, que seriam completados no ano segunte. “Mas ele se foi antes, em dezembro de 98.ª Assim, o que era para ser uma celebração virou tributo.

Com a voz grave e doce de João Pacífico captadas por um gravador digital em longas sessões na casa do mestre em Guararema-SP, em 98, e de posse de gravações inéditas de Levino Conceição, Leandro convidou o violonista Ítalo Perón, o violeiro Claudinho, o bandolinista Prata e Leroy Almêndola ao acordeon, e montou as treze faixas.

“É incrível – admira-se Leandro – como as peças de Levino `casam’ com a poesia de João Pacífico. Parece até que foram compostas especialmente para ele: a poesia nasce do violão e os sons da viola materializam-se em palavras que não podiam ser outras. E eles nunca se conheceram!” Sobre a poesia, o CD revela-se um documento histórico: são as últimas declamações do poeta.

O disco traz participações de Jair Rodrigues em Cabocla Tereza, Tinoco faz as duas vozes de Chico Mulato; Sandra Pereira empresta a doçura da sua voz para Doce de Coco, parceria original de João Pacífico com Jacob do Bandolim, e o grupo Trovadores Urbanos fecha com a bela Alpendre da Saudade.

(O disco pode ser obtido também pelo e-mail

leandrofrc@uol.com.br.)

Country e rasqueado

Acústico ao Vivo (Abril Music), gravado durante um show na Estação Memphis, em São Paulo, é o quarto álbum de Edson & Hudson. São quatorze faixas que contemplam o romantismo aliado ao country e ao rasqueado.

Além das canções inéditas, há regravações, como Zoião (Tivas/Nino), arrasta-pé para não deixar ninguém parado. A balada Jura (Luís Angel/Piska) é versão de Lluvia, sucesso do cantor Luís Angel. Outra versão é Te quero pra mim (Hill/Sanders/Raul/Edson/Marquinhos), no originalIt Matters To Me, da estrela country Faith Hill. Fechando a festa, um pot-pourri em homenagem ao grande Tião Carreiro, influência para qualquer artista sertanejo de verdade, com os clássicos Pagode em Brasília (Teddy Vieira/Lourival dos Santos), Pagode (Tião Carreiro/Carrerito) e A coisa tá feia (Tião Carreiro/Lourival dos Santos).

Viola de montão é bem bão

Se uma viola só já é um trem bão, como diz Rolando Boldrin, imagine 50! E está aí o primeiro CD da Orquestra Paulistana de Viola Caipira para comprovar a admiração do músico e de todos. Em lançamento pela Kuarup, o disco resulta de uma gravação ao vivo, com mais de 50 violeiros e cantores proporcionando 79 minutos de toada, cururu, querumana, corta jaca, cateretê, guarânia, pagode de viola, recortado e folia de reis, com tudo começando com o Hino Nacional, sob a batuta do maestro Rui Torneze.

A orquestra surgiu em 1998 do curso da Universidade Livre de Música Tom Jobim, de São Paulo. Ela e o CD são um marco no resgate das tradições sonoras da originam música de raiz, interpretada exclusivamente pelo primeiro instrumento musical a chegar no Brasil pelas mãos dos jesuítas, a viola, a qual aqui foi acrescentada a denominação “caipira”, termo este atribuído às pessoas, coisas e modus vivendi, segundo a ótica e linguajar do nativo indígena, característico do homem branco que adentrava o interior do Brasil: caa pira – aquele que corta o mato.

“Atestando os dados históricos, observa o maestro Torneze”, os mais de cinqüenta violeiros que compõem a OPVC, apesar de residirem na cidade de São Paulo, são na quase totalidade filhos do interior do Brasil. São paulistanos e paulistas de diversas cidades, bem como mineiros, paranaenses, catarinenses, gaúchos, mato-grossenses, baianos e goianos que têm como ponto em comum a paixão pelo seu instrumento e fazem deste o elo indissolúvel com a sua cultura de origem.”

***

Kuarup faz entregas em todo o País, com frete grátis a partir de três CDs. Pedidos, podem ser feitos também pelo telefone (21) 2220-1623, fax (21) 2220-0494 ou e-mail

kuarup@kuarup.com.br

Voltar ao topo