Museu Oscar Niemeyer reabre hoje com exposição ítalo-sul-americana

Não será sob a guarda dos Guerreiros de Xi?an, como chegou a ser anunciado pelo governo do Estado. Depois de quase meio ano fechado, o majestoso Museu Oscar Niemeyer (inaugurado no final do ano passado como NovoMuseu) reabre as portas voltado para a América do Sul: menos dispendiosa (cerca de R$ 150 mil, sem contar os seguros), a mostra Novecento Sudamericano foi escolhida para a reinaguração do espaço. Os recursos foram captados pela Sociedade Amigos do Museu Alfredo Andersen, através da Lei Rouanet.

Com curadoria de Tadeu Chiarelli e Diana Wechsler, a exposição faz um retrato da arte do século XX na Itália, Argentina, Uruguai e Brasil. São cem telas, emprestadas por trinta museus, instituições e colecionadores particulares dos quatro países. A cerimônia de abertura, às 19h30, além da diretora do Museu Oscar Niemeyer, Maristela Requião, vai contar com a presença do governador Roberto Requião e da neta de Oscar Niemeyer, Ana Lucia Niemeyer Medeiros, uma das diretoras da Fundação que leva o nome do avô. O arquiteto não virá “por causa da idade”, e pelo medo crônico de avião.

A exposição reflete a relação da arte italiana, no período entre guerras, com Argentina, Brasil e Uruguai, ao mesmo tempo em que o governo do Paraná define a política e os caminhos do Mercosul. “É importante para os habitantes do Cone Sul voltar às raízes, despertar a experiência guarani, reviver tudo o que foi criado antes do processo de ocupação desta América tão sofrida”, discursou Requião no Festival Internacional da Tríplice Fronteira.

Tempo suspenso

O Tempo em Suspensão, título dado pelo curador Tadeu Chiarelli, se materializa nas pinceladas de mestres como Di Cavalcanti, Portinari, Berni, Garcia, Tarsila, Pennacchi, lembrando o processo civilizatório de uma identidade que foi formada a partir da fusão de três culturas: os indígenas, os ibéricos e os negros. De fato, as telas da Novecento instigam a uma observação mais aguçada das raízes, da história e cultura dessa América tão diferente, excêntrica, colorida e dissonante.

É uma amostra do trabalho de pintores contemporâneos italianos, e de artistas que vieram da Itália, ou seus descendentes que se destacaram na América do Sul. É a interpretação da arte sobre a mulher operária, a questão dos negros, imigração, questões sociais e as manifestações políticas na América.

“As obras sempre solenes dos pintores da corrente metafísica, pinturas repletas de mistérios, em que os objetos inanimados, figuras solitárias ou manequins habitam os cenários sombrios e asfixiantes do Novecento (século XX), silenciosas e de forte padrão hierático (referente às coisas sagradas), parecem querer transcender qualquer temporalidade, parecem desejar colocar o tempo em suspensão”, sintetiza o curador.

Italianismo

Em sua apresentação no catálogo, Chiarelli prossegue: “Analisando as produções de alguns deles, percebe-se que poderiam ter sido realizadas por um artista de fato italiano, e que nunca tivesse deixado seu país de origem. São obras que devem ser entendidas e estudadas como desenvolvimentos solitários e genuínos da pintura metafísica, do Novecento italiano ou fora da Itália”.

E emenda: “Uma história da arte italiana que se desenvolveu fora do seu território poético, em que a memória e o sentimento de exílio são talvez a tônica, mesmo entre os artistas não-italianos”.

A Novecento Sudamericana, que chega pela primeira vez à América do Sul após temporada no Palazzo Reale, em Milão, foi montada por ocasião da Assembléia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na presença de autoridades de toda a América Latina e Européia. As telas pertencem a mais de 40 coleções particulares, museus, fundações que estão espalhadas pelo mundo todo.

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A partir de amanhã, das 13h30 às 19h, as exposições estarão abertas ao público, ao custo de 2 reais (renda revertida à recém-criada Sociedade dos Amigos do Museu Oscar Niemeyer).

Portinari ganha sala especial na mostra

Em homenagem ao centenário de Cândido Portinari, o Museu Oscar Niemeyer reservou uma sala especial com seis obras do renomado pintor brasileiro, que integram a exposição Novecento Sudamericano. Na apresentação A Itália é aqui, catálogo assinado pelo curador Tadeu Chiarelli, as grandiosas obras de Portinari são “todas contaminadas por um sabor inegavelmente novecentista, mas profundamente mergulhadas em questões locais”.

Segundo ele, Portinari também realizou outras tantas obras marcadas por um espírito e uma melancolia metafísica em que, aparentemente prosaicas cenas de gênero, são na verdade grandes alegorias do Brasil e do brasileiro. “Mais especificamente da mulher brasileira, totalmente identificada com sua terra natal”.

Chiarelli cita as Baianas e Marias (ambas de 1936), telas que apresentam “as mulheres brasileiras do povo, trabalhadoras que, imersas em paisagens que se perdem em largos e vazios horizontes (cenográficas e melancólicas), parecem brotar do chão que as sustentam”.

Biografia

Cândido Portinari nasceu em 1903 no Rio de Janeiro, e faleceu em 1962. Tornou-se de certa maneira o artista oficial do Modernismo brasileiro. Formou-se pela Academia Nacional de Belas Artes e foi para a Europa, graças ao prêmio que recebeu no 35.º Salão Nacional de Belas Artes, em 1928. Durante sua permanência na Itália, estudou e adquiriu uma certa visão do século XV. Realista convicto, absorve algumas formulações das artes plásticas derivadas do pós-cubismo, em particular de Picasso, e do expressionismo fundindo-se em seu estilo e personalidade.

De olho na arte do Paraná

Paralela à Novecento, seráaberta também a exposição Um Olhar Sobre a Arte Paranaense, que tem a curadoria de Jair Mendes. Serão apresentadas 80 telas de artistas locais, numa retrospectiva histórica que se inicia com Alfredo Andersen e termina com pintores modernos como Fernando Vellozo e João Ozório Brzezinski. A mostra inicia com Andersen, Miguel Bakun, João Turin, escultores como Erbo Stenzel, e encerra com artistas contemporâneos como Leila Pugnaloni, Fernando Velloso, Osmar Chromiec, Carlos Eduardo Zimmermann, João Ozório Berzinski, entre outros.

João Ozório, por exemplo, marca a época da repressão pela contestação expressa em muitas de suas obras. A relação entre o olhar e a exposição é uma conexão entre a arquitetura do “Olho” do Museu e a visão do paranaense sobre a sua arte. As telas foram reunidas em entidades públicas, museus e o antigo acervo do Banestado (Museu de Arte Contemporânea- MAC, Museu de Arte do Paraná Mapi).

Brecheret

O Museu Oscar Niemeyer estará apresentando ainda as esculturas de Victor Brecheret. Um dos mais renomados escultores brasileiros da modernidade, Brecheret acompanhou as tendências da escultura de seu tempo, levou a expressão de formas humanas aos limites da concisão geométrica.

“Em suas obras, prevalece o sentido da economia formal do programa moderno. Certa estilização no alongamento de suas figuras marca a presença da art-decô. Por outro lado, na constância de algumas formas percebe-se a influência do escultor romeno Brancusi. Na facetação da figura, articulando coerentemente os planos e curvas, Brecheret dispensa a norma naturalista e se aproxima do cubismo. Fiel aos materiais tradicionais como a pedra, a terracota e o bronze, ele manifestou sempre uma atração pelo volume pleno, sem se aventurar como Picasso e Braque na planificação do volume”. (Extraído de Arte Moderna Brasileira – Uma Seleção da Coleção Roberto Marinho).

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