Muito além da cozinha

Vanessa Gerbelli está provando em “Desejos de Mulher” que novela é realmente uma obra aberta. A atriz entrou no meio da trama das sete e já teve o rumo de sua personagem totalmente alterado.

O autor Euclydes Marinho transformou o que seria uma doméstica em namorada do patrão. Para Vanessa, Gonçala era uma empregada boazuda que atiçava os filhos adolescentes da patroa. De top e minissaia curtíssima, fazia os salientes garotos trabalharem para ela. Vanessa seguia a linha do humor até que houve uma reviravolta na trama. Gonçala virou namorada do patrão após revelar-se uma fisioterapeuta que não ganhava dinheiro e, por isso, trabalhava como empregada. “São os truques de uma obra aberta que o ator tem de estar preparado”, resigna-se a atriz nascida em São Bernardo do Campo.

Por um lado, Vanessa gostou das mudanças em sua personagem, embora elas possam não fazer muito sentido. Gonçala era um papel periférico da trama da novela e acabou crescendo ao interagir com o patrão vivido por Cássio Gabus Mendes. Mais do que isso, seu universo se tornou mais humano e perdeu o ar da galhofa. Além de que Gonçala era vista provocando os meninos, fazendo fofoca e só. Eram sempre as duas mesmas cenas. Agora, os diálogos são maiores e a personagem passa por várias nuances dramáticas. “Finalmente, ganhei uma direção, pois estava perdida. Psicologicamente, a personagem não existia para mim”, confessa a atriz, de 28 anos.

“Vai dar problema…”

Vanessa lembra que, logo que entrou na novela, o público mexia com ela na rua. Uns diziam para ela deixar de ser safada e não abusar dos meninos. O próprio pai da atriz, que é advogado, ficou receoso com a relação da empregada com os patrõezinhos. “Isto vai dar problema… É aliciamento de menores!”, alertava ele. Mas o que mais marcou Vanessa foram as pessoas que reclamavam que ela estava muito bonita para ser uma empregada. “Acho um absurdo. É preconceito”, lamenta. Com cenas bem mais dramáticas, agora a diversão da atriz é o novo colega. É que Cássio é mestre em contar piadas pouco antes das cenas mais sérias. “A gente continua rindo e ele fica sério rapidamente. O Cássio é macaco velho”, elogia.

Ainda no segundo trabalho na tevê, Vanessa garante que não gostaria de fazer uma terceira novela como empregada. Na sua estréia, em “O Cravo e A Rosa”, ela viveu a enfezada Lindinha. Que, aliás, também era apaixonada pelo patrão Petruccio, papel de Eduardo Moscovis. “Mas era uma novela de época, o que diferencia bastante. Além disso, tivemos uma grande preparação, o que não aconteceu em ‘Desejos'”, compara. Vanessa sabe que o fato de ser contratada da Globo até 2004 dificulta a recusa de qualquer que seja o papel. No entanto, confia na compreensão da emissora. “Sou funcionária, mas ainda estou construindo uma carreira. É minha imagem em jogo”, diz.

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