Nos cinemas

Mostra revê o percurso criativo de Yutaka Toyota

Há cerca de 60 anos, o jovem artista japonês Yutaka Toyota mudava para o Brasil, país que virou o seu novo lar. Hoje, ele se diz, inclusive, mais brasileiro do que japonês. Foi aqui que deixou a pintura figurativa para se especializar em esculturas, alvo de uma grande exposição em cartaz em São Paulo, a maior de sua carreira.

A mostra Toyota – O Ritmo do Espaço traz coleção de suas obras esculturais criadas desde que chegou ao Brasil, no final dos anos 1950. A exposição, que já passou pelo Rio, encontrou em São Paulo um local ideal de realização, o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, faculdade que tem, em seu câmpus em Higienópolis, alguns trabalhos marcantes do artista.

“Essa exposição é a mais importante da minha vida”, diz Toyota em entrevista à reportagem, no meio da mostra. Ele fez questão de acompanhar toda a montagem, comandada pela curadora Denise Mattar, e produziu um gigantesco trabalho inédito especialmente para a mostra em São Paulo, uma escultura de mais de 5 metros de altura, que fica no centro do espaço expositivo. “O artista vai ter imaginação para sempre e trabalhar até morrer. Sempre criando.”

Além de reunir obras, a exposição traz também painéis com fotos de grandes esculturas que Toyota fez nas últimas décadas no Japão e fotos de algumas famosas feitas em locais públicos brasileiros, como na Praça da Sé, em São Paulo. “Não nos preocupamos em fazer uma exposição em ordem cronológica, isso não faz sentido na obra dele”, diz a curadora. “A ideia é fazer um resgate do pioneirismo dele.”

Toyota foi um dos primeiros artistas a trabalhar com o aço. A ideia dele é lembrar o espaço cósmico, como ele próprio fala, e surgiu logo após se mudar para o País. “Quando cheguei ao Brasil, fui ao interior, e vi tudo verde nas plantações de cana-de-açúcar”, lembra. “E vi o céu imenso. No Japão não existe isso, fiquei emocionado.” Tempos depois, o artista foi ao Japão mostrar sua obra, e o público torceu o nariz. “Falaram que era material de cozinha”, ri Toyota. “Dois anos depois, voltei mais uma vez ao Japão e constatei que muitos artistas estavam usando aço.”

Para o nipo-brasileiro, o público aqui e também da Europa aceitou sua arte mais rapidamente. No País, foi destaque na 10ª Bienal de São Paulo, com a instalação imersiva Quarto Escuro, reproduzida na exposição. No Rio, venceu o prêmio do Salão Esso, de 1965, no Museu de Arte Moderna, que o levou à Itália. Lá, conviveu com Lucio Fontana, artista argentino-italiano que já admirava e chegou a procurá-lo em Buenos Aires. “O movimento de Fontana dizia querer a arte mais próxima das pessoas e o trabalho de Toyota está dentro dessa vertente”, explica Denise Mattar.

Mesmo com uma forte influência brasileira, o trabalho de Toyota é, principalmente, inspirado na filosofia oriental. “No Japão, há uma reflexão maior sobre os pensamentos. Sempre mantenho o espírito japonês”, ele conta. Para trabalhar o “espaço cósmico”, o artista, que fundamenta sua filosofia na Teoria da Relatividade de Einstein, cria esculturas que vão além do “3D”. Nas estruturas sempre espelhadas, as cores do universo surgem em uma explosão, no meio das figuras. “Apresento o objeto não só com uma terceira dimensão, mas com uma quarta, invisível para nós, seres humanos”, acrescenta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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