Mostra no Sesc Belenzinho apresenta obras sobre o tema da imaterialidade

Quando o francês Claude Monet (1840-1926) pintou a Catedral de Rouen sob a luminosidade de diferentes momentos do dia, a “percepção começou a ter um lugar essencial na compreensão daquilo que se vê”, explica a curadora Ligia Canongia. Ainda no século 19, ela completa, o impressionismo colocou a “questão da desmaterialização” na arte. Entretanto, este tema da história da arte não ficou no passado, tornando-se candente e sendo retomado de tempos em tempos por distintos artistas, como se pode ver na exposição Imaterialidade, que será inaugurada nesta quarta-feira, 1, para convidados, e na quinta-feira, 2, para o público no Sesc Belenzinho.

A mostra, com curadoria de Ligia Canongia e Adon Peres, apresenta uma bela seleção de obras de criadores nacionais e estrangeiros – entre eles, Waltercio Caldas, James Turrell, Anthony McCall, Carlito Carvalhosa, Laura Vinci e José Damasceno -, que, exclusivamente ou pontualmente, dizem os curadores, enfatizam o – “filosófico” – tema do intangível através do uso da luz, de palavras, sons, transparência – e até do ar.

Cinco frases (em francês e em espanhol) de Ben Vautier, um dos integrantes do histórico grupo Fluxus, estão espalhadas pela exposição como “sopros”, descreve Peres, que dizem “Eu Sou Transparente” (1990) e “É Difícil Amar” (2006), mas é a sentença “Como Into the (W) Hole” (2002), do carioca Marcos Chaves, estampada em vinil sobre a parede, que sintetiza a discussão proposta em Imaterialidade. O jogo de palavras refere-se às ideias de cheio e de vazio – e as indagações filosóficas, define Ligia, colocadas nos trabalhos da coletiva também abrem-se para questões sobre o ser e o não ser, a luz e a sombra, o real e o irreal. A riqueza ou potência da mostra coletiva está, assim, na união que os trabalhos expostos criam entre o conceitual e o sensorial – e até o poético, em muitos casos.

Ilusão

A obra de Turrell, de 1968, é das mais emblemáticas da mostra. Em uma sala escura, o artista estabelece apenas com o uso da luz a “ilusão de um volume”, diz Ligia Canongia – verde – naquele espaço. “Turrell trabalha essencialmente sobre o impalpável”, afirma Adon Peres. A criação do efeito ótico também está relacionada à instalação Seção Diagonal (2008), de Marcius Gallan, entretanto, é melhor destacar a histórica peça do norte-americano como elemento fundamental de um segmento dedicado a trabalhos feitos com uso de lâmpadas ou projetores.

Desse conjunto, Você e Eu, Horizontal II (2006), de Anthony McCall, é fundamental. Pioneiro da relação entre arte e cinema, o britânico “transforma a luz em volume”. Lamentável Vermelho (2006), do francês François Morellet, também é importante presença com seus tubos de néon, assim como o trabalho do norte-americano Keith Sonnier.

Outro nicho interessante da mostra é o dedicado ao som e à efemeridade da performance (representada por Bruce Nauman). Em outro espaço expositivo do Sesc Belenzinho, a sala da inglesa de origem paquistanesa Ceal Floyer tem apenas um amplificador e alto-falantes que reproduzem uma voz dizendo repetidamente a frase “Till I get it Right” (Até eu Acertar). Seria como se a artista referisse à imaterialidade de uma ação através do gesto obsessivo -uma obra que, ainda define Ligia Canongia, remete ao “mito de Sísifo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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