Morre o diretor John Schlesinger

São Paulo – O britânico John Schlesinger, diretor de Perdidos na Noite, morreu ontem em Palm Springs, na Flórida, Estados Unidos, aos 77 anos. Ele estava doente desde 2000, quando sofreu um derrame. Seu estado de saúde piorou nas últimas semanas, até que os médicos decidiram desligar os aparelhos que o mantinham vivo. Schlesinger morava em Palm Springs com o fotógrafo Michael Childers, seu companheiro por 30 anos.

Alguns críticos dizem que pesou sobre Schlesinger a “maldição do Oscar” – segundo a qual alguns diretores, depois de ganhar o mais importante prêmio do cinema, nunca mais fazem nada de bom. Em 1969, “Perdidos na Noite” foi indicado em sete categorias. Ganhou em três: melhor filme, direção e roteiro adaptado (do romance original de James Leo Herlihy).

Analisando em retrospecto a carreira de Schlesinger, vê-se que, de fato, seu filme mais conhecido é também o melhor. “Perdidos na Noite” é um daqueles achados, em que tudo funciona e inteligência se casa com emoção. Dois rostos ficaram no imaginário do espectador daquele fim dos anos 60: Jon Voight e Dustin Hoffman como dois perdedores, “losers”, pior xingamento que um americano pode receber. Voight é Joe Buck, texano que resolve vencer na vida como garoto de programa em Nova York. Conhece Rico Ratso Rizzo (Hoffman), baixinho tuberculoso e sem futuro. Ao saber que Schlesinger estava prestes a morrer, Hoffman expressou sua amizade nesses termos: “Nunca mais encontraremos alguém como ele.”

Outros tempos – Hoffman tem razão em sua homenagem. “Perdidos na Noite” remonta a um tempo em que os estúdios ainda ousavam produzir para o público adulto. Apresenta imagens implacáveis da decadência de Nova York, e faz um retrato pouco usual do subproduto de uma sociedade competitiva por definição ela gera riquezas, sim, mas também uma multidão de deserdados. Ratso e Buck eram emblemas dessa América às avessas, que ousava se contemplar de frente, e não gostava exatamente do que via.

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