Morre Cyll Farney, o galã da Atlântida

Rio – Depois da morte de um de seus principais vilões (José Lewgoy, no mês passado), o cinema brasileiro perdeu ontem um de seus eternos galãs: aos 78 anos, o ator Cyll Farney morreu durante a madrugada, no Rio de Janeiro. A família não quis divulgar a causa, mas, segundo a agência de notícias Reuters, fontes do Hospital Adventista Silvestre, onde estava o artista, informaram que ele sofreu uma parada cardiorrespiratória. O enterro estava previsto para a tarde de ontem, no Rio.

Cylleno Dutra e Silva, seu nome verdadeiro, era irmão do cantor e pianista Farnésio, mais conhecido como Dick Farney, que morreu em 1987, os pseudônimos foram inventados pelo pai. Na grande época do cinema brasileiro, entre os anos 50 e 60, Cyll Farney era o galã das chanchadas da Atlântida e mal podia sair às ruas, pois era perseguido pelas fãs. O assédio era tamanho que ele chegou a fundar, com alguns amigos como Anselmo Duarte, o Clube das Chaves, em Copacabana, onde só entravam cerca de 50 pessoas que tinham a chave. Farney atuou em 37 filmes ao lado dos principais artistas da época, como Oscarito, Grande Otelo, José Lewgoy e, principalmente, a cantora Eliana, sucedendo Anselmo Duarte na formação de um dos mais queridos pares românticos da tela. “Embora tenha participado de tantos filmes, sempre repeti o mesmo papel”, disse Farney certa vez.

Sua carreira no cinema começou em 1947, quando rodou, ao lado de Marlene, o filme “Um Beijo Roubado”, de Leo Marten, em que tocava bateria ao lado do irmão Dick, também estreante. O título original era “Noites em Copacabana”, mas foi vetado pela censura, o que atrasou sua estréia. “Começamos a filmar em janeiro de 1947, mas a fita só estreou em dezembro de 1950.” Em seguida, Farney viajou para os Estados Unidos, onde ficou durante dois anos. Na volta, formou dupla com Fada Santoro nos filmes “Areias Ardentes”, de J. B. Tanko, e “Tocaia” e “Escrava Isaura”, ambos de Eurides Ramos. O sucesso consolidou-se a partir de 1952, quando começou a filmar nos estúdios Atlântida. A lista é imensa: “Os Três Vagabundos”, “Carnaval Atlântida”, “Aí Vem o Barão”, “Chico Viola não Morreu”, “O Homem do Sputnik”, “Dois Ladrões” (em que atuou também como produtor), “Quanto mais Samba Melhor”, “As Sete Evas”, “Nem Sansão nem Dalila”, “Pitando o Sete” e outros.

Com a decadência das chanchadas, Farney participou de programas de televisão. Participou também da novela “Melodia Fatal” (1963), na “Excelsior”, ao lado de Nívea Maria e Fúlvio Stefanini, sua única experiência no gênero. No cinema, decidiu atuar nos bastidores. Tornou-se diretor de produção de filmes como “Todas as Mulheres do Mundo”, de Domingos Oliveira; “Os Carrascos Estão entre Nós”, de Adolfo Chadler; e “A Espiã Que Entrou em Fria”, de Sanin Cherques. Seu último longa foi “Esse Rio Muito Louco” (1977), filme de episódios.

Na publicidade, produziu centenas de filmes até fundar, em 1981, ao lado de Paulo Lomba e Iracema Supeleto, os estúdios da Tycoon. Sua última aparição artística foi durante a minissérie “Hilda Furacão”, da Rede Globo.

37 filmes, todos iguais

Luiz Carlos Merten

São Paulo – Se não era Cyll Farney, só podia ser Anselmo Duarte. Foram os dois maiores galãs na fase áurea da chanchada, nos anos 1940 e 50. Cyll (de Cylleno) Farney, irmão do cantor Dick Farney, na verdade, era até mais galã do que Duarte. Fez 37 filmes, a maioria na Atlântida, e era o primeiro admitir que foram todos o mesmo filme.

Seu papel também não variava. Até por ser bonito, o que se exigia de Cyll Farney é que fosse sempre o bom moço, forte e de bela estampa, a postos para salvar as mocinhas que terminavam invariavelmente em seus braços, trocando aquele beijinho doce que era o máximo permitido nas chanchadas da Atlântida.

Temos agora só Anselmo Duarte e Carlos Manga. Watson Macedo, Eliana, Carlos Burle, Oscarito, Grande Otelo, Violeta Ferraz. Já foram todos. Eram expoentes de uma época do cinema brasileiro que transformou a chanchada num veículo de comunicação com as grandes platéias. Eram os anos do rádio e a chanchada era o rádio pela câmera de filmar. As histórias eram sempre bobinhas e a ação tinha de parar para os cantores da “Rádio Nacional” apresentarem seus números com os sucessos da temporada. Mas houve uma vertente da chanchada que parodiava os sucessos de Hollywood.

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