Moacyr Scliar toma posse na ABL

Rio – O escritor Moacyr Scliar, de 66 anos, toma posse hoje da cadeira 31 na Academia Brasileira de Letras (ABL), com uma sugestão que pode abalar os alicerces da casa de Machado de Assis: a de que o povo seja ouvido no processo de votação dos imortais.

Scliar defende a tese depois de ter recebido um apoio que considerou “histórico” na sua campanha: um abaixo-assinado subscrito por oito mil moradores de Porto Alegre, onde nasceu. “Recebi apoio entusiástico da população. Um abaixo-assinado como esse é inédito e encerra a mensagem de que o povo quer participar das suas instituições culturais”, diz Scliar, imortalizado numa eleição praticamente unânime – foi escolhido por 35 acadêmicos, apenas um votou em branco.

Autor de 62 livros, o escritor gaúcho sugere que a população seja consultada por meio das instituições culturais dos seus estados. “Acho que tem de haver um mecanismo de participação popular. A ABL é um órgão importante, com figuras especiais, com quem as pessoas querem ter mais contato”. O carinho e a torcida do povo do Rio Grande do Sul – que, com a eleição de Scliar, superou a frustração de ver o poeta Mario Quintana rejeitado por duas vezes pela academia – levaram o escritor a conciliar a data da posse com a agenda do que chamou de “bancada gaúcha” (políticos, artistas, amigos, e familiares).

Homenagem

Como forma de homenagear seu povo, ele escolheu ainda o poeta Carlos Nejar para recepcioná-lo na ABL. “Ele é o único gaúcho na academia, grande poeta e amigo, com quem eu tenho passado em comum”, explicou o “calouro”, ressaltando que tem muitos amigos na casa e, se fosse possível, todos seriam convidados para recebê-lo.

O autor de Saturno nos Trópicos reconhece que a posse é uma sessão solene, mas disse que gostaria que ela tivesse um tom informal. “Darei um tom afetivo ao meu discurso. Lembrarei minha trajetória de menino pobre do Bom Fim (bairro de Porto Alegre), iniciado na literatura pela mãe, uma professora. Minha fala será menos literária e mais afetiva”, promete. E arremata, num tom claro de brincadeira: “Com meu fardão, estarei chique como um porteiro de hotel”.

Arqueóloga volta a disputar cadeira

A arqueóloga Maria Beltrão anunciou que vai disputar a cadeira 19 da Academia Brasileira de Letras, vaga com a morte do jornalista Marcos Almir Madeira. Ela disse que enviou carta aos imortais comunicando sua decisão. O texto seria lido na Sessão da Saudade, ontem. “Ele foi meu querido mestre e amigo. Era um semeador de convivências, um homem de diálogo e seria uma honra substituí-lo”, disse a pesquisadora.

É a segunda vez este ano que Maria Beltrão concorre à imortalidade. Em abril, ela foi vencida pela escritora Ana Maria Machado em votação apertada: cada uma recebeu 16 votos na primeira eleição. A autora de livros infantis derrotou a arqueóloga no segundo escrutínio por 19 a 13.

Maria Beltrão disse que encarou com “muita naturalidade” aquela derrota. “Tudo tem sua hora certa. É uma honra ser parte desse farol da cultura”, disse. A arqueóloga defende sua candidatura como uma oportunidade de “reabertura do diálogo entre a academia e o Museu Nacional”, centro de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da qual é professora.

A presidência da ABL não havia recebido nenhuma carta de candidato à cadeira 19 até o fim da manhã de ontem. Mas a direção da Casa espera que pelo menos oito escritores concorram à imortalidade. As inscrições podem ser feitas até o dia 19 de novembro. A eleição está marcada para 4 de março. (CT)

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