Moacyr Scliar deve ser eleito hoje para a ABL

Rio de Janeiro – Se tudo sair a contento, hoje haverá festa em Porto Alegre, para saudar o mais novo imortal. O escritor Moacyr Scliar, filho da terra, é o candidato favorito à cadeira número 31 da Academia Brasileira de Letras, na eleição que ocorre às 16h, com 36 votantes. “Antes de tudo, vamos esperar o resultado, porque quem tem a palavra é a urna”, diz Scliar, com uma prudência mais apropriada a seu antecessor, o escritor mineiro Geraldo França Lima, que morreu em março deste ano. “Já há um gaúcho na Academia, o poeta Carlos Nejar, mas o povo daqui quer ter um por perto, andando na rua, encontrando no supermercado”.

Se depender dos acadêmicos, a eleição será tranqüila. “Esta e a próxima, de Cícero Sandroni, na vaga que foi do Faoro (o jurista Raymundo), estão monotonamente certas”, garante um imortal que prefere não se identificar para preservar o ritual da casa. “Prefiro eleições mais aguerridas, com muita disputa, como foi a do Paulo Coelho e a da Ana Maria Machado, recentemente. Quando há disputa, a Academia fica mais prestigiada. Toda conquista fácil perde a graça, porque uma mulher difícil agrada mais. E a Academia deve ser como as mulheres: desejada, difícil e cheia de charme”.

Não que faltem candidatos a imortal. Scliar, médico sanitarista, jornalista e autor de 62 livros entre romances, infanto-juvenis e ensaios (o best seller é O Centauro no Jardim, traduzido em dez idiomas), tenta pela primeira, com dois concorrentes, Diógenes Magalhães, que se candidatou mais de uma dezena de vezes, e o londrinense Paulo Hirano, também experiente nessa competição. Mas Scliar é abertamente o favorito dos acadêmicos e mesmo de outros pretendentes à ABL.

O escritor e roteirista José Louzeiro, ao sabê-lo na disputa, desistiu, embora tivesse obtido dez votos no pleito anterior, que elegeu Alfredo Bosi na vaga de dom Lucas Moreira Neves. “Algumas candidaturas nascem feitas, dizem mais respeito à instituição que a seus postulantes”, diz outro acadêmico com décadas de imortalidade. “Scliar é um desses casos e cumpriu todo o ritual da Casa.”

Sonho Antigo

Ele confessa que o sonho era antigo, embora esta seja sua primeira tentativa. “Como qualquer pessoa que escreve, a Academia Brasileira de Letras é uma referência na minha vida. Ainda mais agora que intelectuais da minha geração, como João Ubaldo Ribeiro e Nélida Piñon estão lá, ao lado de pessoas que sempre admirei”, disse o escritor no início da semana, ainda em Porto Alegre. “Cumprir o ritual das visitas foi um prazer, porque estive com meus amigos e com pessoas que sempre quis conhecer. Mas os gaúchos tomaram para si a candidatura e fizeram até abaixo-assinado para os acadêmicos. Nunca vi isso. Só no último domingo reuniram mais de 6 mil assinaturas.”

Para se eleger, ele precisará de 19 votos, pois apenas 36 cadeiras estão ocupadas. A de número 6, que foi de Raymundo Faoro, ainda não tem titular. A eleição será em 25 de setembro com cinco candidatos, mas o jornalista Cícero Sandroni é o favorito. A escritora e jornalista Ana Maria Machado, que entrou na vaga do jurista Evandro Lins e Silva, e o crítico literário Alfredo Bosi, embora eleitos, ainda não tomaram posse. Por isso, o nome do escolhido deve sair no primeiro escrutínio. Mesmo assim, Scliar só vai se manifestar depois de comunicado o resultado, até por uma questão de etiqueta acadêmica.

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