Miss T Brasil oferece mudança de sexo de prêmio

Realizado na segunda-feira, 22, o Miss T Brasil, concurso que escolhe a transexual mais bonita do País, ofereceu prêmios tradicionais de competições de beleza, como coroa, faixa e inscrição na versão internacional. Além disso, um nada convencional: a possibilidade de fazer, entre outros procedimentos, a cirurgia de mudança de sexo na Tailândia.

A vencedora, a paulistana Raika Ferraz, de 21 anos, prefere submeter-se a outras intervenções, menos radicais: troca de prótese de silicone, lipoescultura e operações para correção de orelha de abano e de feminilização facial, que consiste em mudança no formato de mandíbula, rinoplastia e raspagem do pomo de adão.

“Vi muitas meninas que entraram no concurso só para fazer a mudança de sexo. Elas têm vergonha de ser como são. Vai de cada uma. Eu sou muito feliz do meu jeito. Tenho medo de fazer e de não gostar, e também de perder a sensibilidade (na área genital). A Lea T. (modelo transexual) deu entrevista falando que se arrependeu”, diz Raika.

Nascida Carlos Rafael, ela está animada com a viagem para a Tailândia para as cirurgias, e também com a futura participação no Miss International Queen 2014. “Dá medo de operar, ainda mais longe de casa, mas os médicos lá são muito famosos”, acredita. A presidente da Associação das Travestis e Transexuais do Rio e organizadora do Miss T., Majorie Marchi, afirma que a Tailândia é referência no universo “transgênero” pela naturalidade com que trata a questão – tem até escola com um terceiro banheiro, para que não haja constrangimentos.

“Lá, eles não são estigmatizados, como aqui, não tem o machismo latino-americano”, afirma Majorie, esclarecendo que o que foi oferecido como prêmio foi um voucher no valor equivalente a R$ 16 mil, para a cirurgia que a vencedora escolhesse, e não especificamente a operação de “transgenitalização”. “Não oferecemos assim. A legislação não permitiria”, afirma. O concurso, no qual se inscreveram 172 transexuais de todo o País, é apoiado pelo Programa Rio Sem Homofobia, do governo do Estado, e é uma iniciativa pela promoção da cidadania de travestis e transexuais. Foi realizado em 1974, 1975 e 1976 e retomado em 2012.

Acompanhamento

Em homens que querem ser mulheres, a cirurgia de “transgenitalização”, ou redesignação sexual, é feita com a remoção dos testículos, amputação do pênis e uso da pele na construção da vagina. Dura, em média, de quatro a seis horas. Trata-se de um procedimento irreversível. Quando há arrependimento, o paciente pode ter depressão profunda e chegar ao suicídio.

No Hospital Universitário Pedro Ernesto, cujo Ambulatório de Urologia Reconstrutora é referência nacional – as operações são realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) -, o processo para a realização do procedimento dura dois anos, e há fila de espera. O hospital faz a cirurgia há dez anos, no máximo uma por mês.

Durante os dois anos, o paciente é acompanhado por médicos, psicólogos e assistentes sociais, que avaliam aspectos clínicos e psíquicos. Só então é formulado um laudo que precede a cirurgia. Parte dos pacientes é considerada inapta e não é operada. O psiquiatra Miguel Chalub, que atende no hospital, diz que o ambulatório já recebeu vários casos de cirurgias malfeitas na Tailândia. “É uma picaretagem, um absurdo o que eles fazem. Pagando, eles fazem qualquer coisa, aproveitam-se do desespero das pessoas. Depois, a gente tem de consertar aqui. Não se pode fazer essa cirurgia sem que haja um estudo da personalidade, sem ter convicção absoluta do que se vai fazer.”

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