Minissérie vai contar a história da ferrovia Madeira-Mamoré

Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias
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Benedito Ruy
Barbosa: sonho.

O autor Benedito Ruy Barbosa já tinha perdido as esperanças de, um dia, ver adaptada para a tevê a minissérie "Mad Maria". Desde que ele a escreveu, em 1980, a Globo já tentou adaptá-la em três diferentes ocasiões. O fato de a trama ser ambientada em plena floresta amazônica era um dos motivos que inviabilizava o projeto. "Sempre soube que seria impossível fazer um espetáculo à altura do livro.

As locações são dificílimas e as cenas, muito grandiosas", justifica ele. Mas um telefonema do diretor Ricardo Waddington, ainda durante as gravações de "Cabocla", deu como certa a realização do projeto. Depois de quase 25 anos, a minissérie que narra a construção da ferrovia Madeira Mamoré finalmente sairia do papel em 25 de janeiro, como parte das comemorações dos 40 anos da Globo. "Uma das minhas maiores frustrações foi não ter feito ?Pantanal? na Globo. Mas, hoje, estou de alma lavada. A emissora bancou esse sonho maluco!", brinca.

Desde que foi lançado, o livro "Mad Maria", escrito pelo amazonense Márcio Souza, não chamou a atenção apenas da Globo. Em Hollywood, o ator Tom Hulce, que viveu Mozart no filme "Amadeus", de Milos Forman, demonstrou interesse em interpretar o médico Richard Finnegan no cinema. Tanto que até apresentou o projeto à produtora Amblin, de Steven Spielberg. "Estou muito feliz por ?Mad Maria? ter sido realizada no Brasil. Que estúdio de Hollywood teria um Fábio Assunção, uma Ana Paula Arósio ou um Ricardo Waddington para trabalharem no projeto? Nenhum", responde, taxativo.

Mas colocar a minissérie nos trilhos não foi tarefa simples. O próprio título vem da junção de "Mad" "louca" em inglês , termo que ilustra bem o delírio ufanista de desbravar uma região inóspita da floresta amazônica, com "Maria", nome dado às locomotivas movidas a lenha e carvão. Escrita em 38 capítulos a um custo aproximado de R$ 440 mil cada, a minissérie narra o malogrado projeto ferroviário de ligar o Porto de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Mato Grosso, a Guajará-Mirim, no Rio Mamoré, em Rondônia. Para viabilizar a produção, o governador do Estado, Ivo Cassol, investiu R$ 1,5 milhão na restauração de uma locomotiva, quatro vagões e oito quilômetros da antiga "Ferrovia da Morte". "Esse investimento é pequeno diante do resultado que vamos ter. O potencial turístico da região vai aumentar, no mínimo, 500% porque a minissérie vai mostrar para o Brasil e o mundo o que Rondônia tem", acredita Cassol.

Na trama, Fábio Assunção ficou com o papel ambicionado por Tom Hulce: o do médico americano que trabalha na enfermaria do acampamento da ferrovia. Estima-se que o número de mortos, entre vítimas de acidentes de trabalho e doenças tropicais, tenha chegado a 6 mil. "Fiz o bê-á-bá do bê-á-bá com uma médica. Li alguns livros sobre malária e até pensei em assistir a uma necropsia. Depois que vi algumas fotos, desisti", confessa o ator. Na enfermaria do acampamento, Finnegan conhece e se apaixona pela pianista boliviana Consuelo, interpretada por Ana Paula Arósio. Ela é levada para lá depois de ser encontrada ferida no meio da selva. Dias antes, ela teve a infelicidade de perder o marido e o piano na corredeira do Rio Madeira. "Fiz questão de gravar a maioria das minhas cenas de perigo. Numa delas, inclusive, contracenei até com formigas. Na hora, tive de esquecer que morro de medo delas…", entrega a atriz.

Quem é quem em Mad Maria

# Richard Finnegan (Fábio Assunção) – Médico norte-americano, idealista e sonhador. Chega ao Brasil para trabalhar no acampamento da construção da ferrovia Madeira Mamoré. Logo, se apavora com as condições desumanas em que vivem os trabalhadores da ferrovia.

# Consuelo (Ana Paula Arósio) – Pianista boliviana, sofre um naufrágio no Rio Madeira ao tentar atravessá-lo com um piano. O barco vira, o piano se perde nas águas e seu marido morre. Encontrada por operários da ferrovia, é levada, desacordada, para o acampamento.

# Joe Caripuna (Fidelis Baniwa) – Último sobrevivente dos Caripunas, mora na floresta, onde observa, à distância, a movimentação dos operários na construção da ferrovia. Como perdeu todos os parentes, rouba pequenos objetos das barracas.

# Stephan Collier (Juca de Oliveira) – Engenheiro responsável pela construção do Canal do Panamá, é encarregado também de construir a Madeira Mamoré. Quando chega ao local, se depara com as condições precárias, o calor infernal, a falta de medicamentos e o alto risco de contágio de doenças tropicais.

# Dr. Lovelace (Walmor Chagas) – Administrador do hospital de Porto Velho, é o responsável pela ida de Finnegan ao Brasil. Os dois se conheceram nos Estados Unidos quando Lovelace dava uma palestra descrevendo as pesquisas realizadas no Brasil sobre doenças tropicais.

# Luiza (Priscila Fantin) – Moça pobre, mora na então capital federal do Brasil, o Rio de Janeiro. Certo dia, vê seu destino mudar ao conhecer o poderoso Juvenal de Castro. Ela aceita ser mantida por ele, mesmo tendo de se afastar de tudo e de todos.

# Juvenal de Castro (Antônio Fagundes) – Ministro de Estado do Governo do Marechal Hermes da Fonseca, planeja candidatar-se a governador da Bahia. Casado com Amália, vive um romance conturbado com a jovem Luiza, por quem se apaixonou à primeira vista e passa a sustentar.

# Percival Farquhar (Tony Ramos) – Empresário norte-americano, ambiciona controlar o sistema ferroviário latino-americano. Para tanto, compra os direitos da Catambry, empresa que venceu a concorrência aberta pelo governo brasileiro para construção da ferrovia. Com a ajuda da cabeleireira Tereza, trama aproximar-se de Luiza com o único intuito de arruinar Juvenal de Castro, seu inimigo político.

# Amália (Cássia Kiss) – Mulher de Juvenal de Castro, é a principal conselheira do marido. Embora não durma mais no mesmo quarto que ele, continuará ao seu lado até nos piores momentos.

# Tereza (Cláudia Raia) – Cabeleireira, mantém um caso com Percival. Mesmo sabendo que ele jamais assumirá o romance, é capaz de tudo para agradá-lo. Até entregar Luiza para ele.

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