Mestres na ciência e na vida

Ao comemorar o Dia do Professor, 15 de outubro, penso que devemos nos recordar de duas importantes lições: em primeiro lugar, a lição do reconhecimento e da gratidão, trazendo à mente a lembrança saudosa de nossos antigos mestres, aqueles que foram nossos modelos, nos quais nos espelhamos; aqueles que deixaram uma marca em nossa história pessoal, por sua sabedoria e por seus exemplos; a segunda lição refere-se à nossa consciência quanto à importância do papel do professor na formação das novas gerações e, portanto, de sua relevância social.

De início, é preciso ressaltar o papel fundamental do professor. Nada pode substituí-lo. Hoje, quando convivemos com os fantásticos recursos da tecnologia e da era digital, talvez alguém chegue a pensar que o computador e os novos instrumentos de aprendizagem serão capazes de fazer as vezes do professor. Contudo, estamos convencidos de que a presença do professor é insubstituível. A razão é muito simples: as novas máquinas e inteligências artificiais podem transmitir dados e informações tão bem ou até melhor do que os professores, mas só o professor pode transmitir valores.

Acredito que, hoje, a grande crise da sociedade esbarra, fundamentalmente, na ausência de valores e na falta de pontos de referência moral. O professor precisa ser alguém que viva segundo princípios claros, de modo a inspirar os seus educandos. Ele precisa portar-se de tal modo a mostrar aos seus alunos que justiça, honestidade, firmeza de caráter, respeito, solidariedade, compreensão e diálogo são as principais lições que o “vestibular da vida” vai nos cobrar.

É preciso, também, ao analisar o relevante papel do professor, frisar a diferença existente entre conhecimento e sabedoria. Costumo dizer que, na Universidade, por exemplo, temos a maior concentração de inteligências por metro quadrado. Realmente, é grande o número de especialistas, em todas as áreas, todos eles detentores de muito conhecimento. Tal conhecimento é fruto de longos anos de trabalho sério e de estudo perseverante. É louvável o nível de intelecção de nossos professores. Porém, mais do que conhecimento acumulado, devemos reconhecer que o que importa mesmo é a sabedoria que alguns mestres têm. E, ouso afirmar, todos professores deveriam ter como meta de suas vidas o alcance da sabedoria.

Poderíamos dizer que, enquanto o conhecimento nos ensina a ganhar a vida, a sabedoria nos ensina a viver. Por isso, precisamos de professores que sejam doutos, mas, ao mesmo tempo, sábios. E, surpreendentemente, podemos comprovar que as lições de sabedoria nos marcam muito mais do que as lições do conhecimento. Esquecemos facilmente algumas lições aprendidas na escola, porém, não esquecemos as lições de vida aprendidas dos mestres. Nossa memória vital é mais eficaz e duradoura do que nossa memória intelectual. As lições de sabedoria imprimem marcas indeléveis em nosso coração, sendo os balizadores de nossas condutas ao longo da existência pessoal de cada um.

Gostaria de destacar, ainda, o caráter complementar que existe entre “ser professor” e “ser educador”. Enquanto o professor forma o profissional, o educador prepara o cidadão; enquanto o professor ensina a ciência, o educador revela os segredos da vida; enquanto o professor aperfeiçoa a mente a e as mãos, o educador sensibiliza o coração e a alma; enquanto o professor explicita axiomas e postulados, o educador imprime princípios e atitudes. Por essas e outras razões, todos os professores devem, aos poucos, se tornar educadores. E não há nada melhor do que poder contar com professores que são educadores. As escolas de formação de professores deveriam se chamar escolas de formação de aducadores. Estes são mais importantes.

Finalmente, ao prestar homenagem aos professores e aos educadores, quero lembrar a bela expressão de Guimarães Rosa, quando dizia: “Mestre não é aquele que sempre ensina, mas aquele de repente aprende.” O conhecimento humano sempre foi um horizonte inatingível. Quanto mais sabemos e descobrimos, mais temos consciência do quanto ainda temos a aprender. Esta parece ser a dinâmica humana do conhecimento.

Por isso, a atitude mais freqüente que deveríamos encontrar nos educadores é a disposição em aprender sempre. A fascinante aventura do aprendizado não deve ser jamais esquecida ou superada. Isso exige do professor, quero dizer do educador, uma atitude constante de “modéstia intelectual”, na expressão de Karl Popper. Embora sempre saibamos mais, sabemos também as dimensões de nossa ignorância. tal atitude deverá despertar nos educandos a sincera busca pela verdade e a disposição de sempre estar a caminho e jamais parar.

Ao destacar estes pontos em relação ao papel relevante do professor na sociedade, presto minha singela homenagem a todos os professores e educadores, de ontem e de hoje, daqui e de longe, da PUCPR e de todas as escolas. A eles, mestres na ciência e na vida, o nosso profundo reconhecimento.

Clemente Ivo Juliatto

é reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Home page:
http://www.orbit.pucpr.br.jornais 

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