Menos circo, mais místico

Quando as cortinas do Teatro Guaíra se abrirem, no próximo dia 13 de junho, os espectadores poderão conferir de perto a evolução do clássico maior do Balé da casa: O Grande Circo Místico, espetáculo feito especialmente para o Balé Guaíra pelo roteirista Naum Alves de Souza, a partir do poema homônimo do alagoano Jorge de Lima, com música de Chico Buarque e Edu Lobo, volta aos palcos depois de 20 anos. Naum, Edu e o coreógrafo Luís Arrieta estiveram reunidos ontem em Curitiba para acompanhar o primeiro ensaio geral.

Eles adiantam que o Circo, que reúne elementos da dança, ópera, circo, teatro, música e poesia, dessa vez virá um pouco menos circense. Será mais tenso e dramático, como convém aos turbulentos dias deste início de século. “Quando fomos contactados para remontar o Circo, decidimos trazer o espetáculo para os dias atuais”, explica Naum. “Para isso, a gente precisava recuperar duas coisas: a fidelidade ao poema, essa mistura do sagrado com o profano que o Jorge de Lima descreve, e a parte mística, misteriosa e dramática da história”.

Ele lembra que a montagem original, coreografada em 1982 por Carlos Trincheira, privilegiava o aspecto circense do espetáculo, a parte lúdica: “Esta nova versão é radicalmente diferente, o Arrieta penetra no âmago do poema, reflete as paixões e o lado místico do Circo. Com isso a carga dramática fica maior, mas sem perder o lirismo e a delicadeza”.

As (poucas) mudanças na trilha sonora foram no mesmo sentido: “São oito músicas novas, todas instrumentais, que acentuam as passagens dramáticas”, conta Edu Lobo. Já as canções originais sofreram poucas alterações. “Refiz alguns arranjos, e suprimi as repetições de temas, que predominavam na primeira versão. Os intérpretes também são os mesmos – Tom Jobim, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Zizi Possi, Simone e Jane Duboc, entre outros.

Apenas duas músicas foram regravadas, seguindo a diretriz de aumentar a carga dramática: A Bela e a Fera, interpretada na primeira versão por Tim Maia, agora é declamada por Marco Nanini, e A História de Lily Braun, antes cantada por Gal Costa, ganhou uma versão na voz da atriz e cantora Vanessa Gerbelli. “A Bela e a Fera aparece numa cena de estupro, e a melodia do Tim Maia amenizava essa violência”, justifica o compositor. “E a Vanessa Gerbelli no lugar da Gal também deixa a música com um ar mais teatral, até porque a bailarina deverá dublá-la, dando a impressão de que está cantando a música ao vivo”. Os fãs de Chico Buarque podem ficar tranqüilos: nenhuma letra foi alterada.

Orçamento

O novo Circo Místico está orçado na faixa entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão, contando concepção, produção e a turnê que até agosto vai passar por outras seis capitais – São Paulo, Rio, Recife, Salvador, Brasília e Belo Horizonte. A montagem está amparada na Lei Rouanet e em leis de incentivo municipais, e conta com o patrocínio da Embratel, Copel e Eletrobrás. Também está em gestação o lançamento de um novo CD com a trilha do espetáculo, ainda sem data para sair.

A diretora do Balé Guaíra, Suzana Braga, não esconde a empolgação com o novo espetáculo: “O Grande Circo Místico foi um sucesso nos palcos, um sucesso musical e será novamente um sucesso. Ele é emocionante do poema em si ao último passo coreográfico”. Ela diz que depois da turnê nacional a intenção é “pôr a cara fora do país”: “Três países – França, China e Espanha – já manifestaram interesse em receber o Circo, mas por enquanto são apenas possibilidades”.

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