Menino de Engenho ressurge no Festival do Rio

São Paulo

– Restaurador desde 1979, Francisco Moreira festeja suas bodas de prata na profissão, em alto estilo. Moreira mostrou na quinta-feira à tarde para Myrna Silveira Brandão e Carlos Augusto Brandão a nova versão zero bala de Menino de Engenho, o clássico que Walter Lima Jr. adaptou do romance de José Lins do Rêgo, na primeira hora do Cinema Novo. Enquanto dava os retoques finais no Menino, Moreira já começava a trabalhar em outro filme importante que também estava ameaçado: O País de São Saruê, de Vladimir Carvalho.

Moreira, que se tornou restaurador na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, adora o que faz. Os pesquisadores do cinema brasileiro, por sua vez, também o adoram. Sem os préstimos desse homem, uma parte fundamental da história do cinema nacional já estaria, quem sabe, perdida.

Quem deu o sinal de alerta foi Carlos Alberto de Mattos, há três anos. Ele ainda escrevia seu livro sobre Walter Lima Jr., que seria homenageado com uma retrospectiva pelo Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio. Foi possível levantar toda a obra filmada do diretor, menos seu primeiro longa – Menino de Engenho -, de 1965. Não tinha uma cópia decente para ser exibida. Ao ir atrás do negativo para tirar uma cópia, Mattos descobriu que o próprio negativo estava uma ruína. O Menino estava ameaçado de desaparecer. Imediatamente, acionou os amigos Brandão e Myrna, do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro. Eles já tinham um acordo firmado com a BR Distribuidora para restaurar três filmes: com o sinal verde do MinC, substituíram Teus Olhos Castanhos, de Ibañez Filho, de 1961, pelo Menino, que era um caso mais urgente.

Ressurreição

O Cine Odeon BR, o palácio do Festival do Rio 2003, serve de cenário para a sessão que vai marcar amanhã, às 14h30, a ressurreição do filme. A sessão deveria ocorrer hoje, mas foi remarcada por compromissos assumidos anteriormente pelo diretor. Walter Lima Jr. estará presente, claro. Está feliz da vida com a restauração de seu belo filme. O diretor acompanhou todo o processo de restauração. Francisco Moreira lembra que, na maioria das vezes, os filmes que restaurou eram assinados por diretores já mortos. As exceções foram Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, e o Menino.

Complicado

O processo de restauração foi complicado. Duas vezes a data final do trabalho teve de ser alterada, e o prazo, ampliado. Menino de Engenho deveria ter ressurgido no Festival do Rio do ano passado. “Trabalhar sobre uma matriz é mais fácil do que sobre cópias, como fazemos habitualmente, mas, neste caso, a matriz estava muito danificada. A restauração teve de ser feita como no desenho animado, trabalhando a imagem e o som quadro a quadro”. Valeu o esforço. A restauração exigiu muito mais dedicação do que os R$ 150 mil que a BR investiu no projeto. Mas Brandão e Myrna agradecem à distribuidora. Esperam que ela, em nova fase, com outras prioridades, continue parceira. Há uma fila de filmes brasileiros clamando por socorro, pedindo para ser restaurados.

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