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Médico e roteirista investiga temas de saúde na TV

A cada caminhada pelas ruas do Brás, o médico de família Victor Hugo Valois é tratado como celebridade. E o motivo não é o caso de ele ser um dos consultores e roteiristas de Unidade Básica, série médica na linha de House e Grey’s Anatomy, exibida pela Universal Chanel. Ao passar por uma padaria, ele é abordado por seus pacientes. “Doutor, preciso remarcar aquela consulta”, “Quando o senhor vai nos visitar?”, “Meu filho melhorou da sinusite depois que o senhor foi lá em casa.”

O cuidado com as pessoas e a experiência com a série de Newton Cannito rendeu a Valois uma monografia na qual discute a presença de doenças e casos médicos nas telenovelas. “Meu primeiro passo foi reunir o que já havia sido produzido ao longo da história”, ele diz enquanto elege Laços de Família (2000) como uma das mais interessantes da lista. Valois fez uma análise sobre o instante em que a personagem de Carolina Dieckmann soube que tinha leucemia.

O médico diz para ela: “Lembra quando eu disse que sua medula funcionava como uma fábrica de sangue? E que o mielograma era uma fotografia dessa fábrica? A fotografia mostrou que sua fábrica está com problemas”. Antes disso, Helena, a mãe de Camila (Vera Fischer) já havia sido informada do resultado. “Ela se comporta como o olhar do telespectador na cena. Em um primeiro momento, a mãe nega que sua filha esteja doente – e isso é um comportamento bastante comum, tanto da família quanto do próprio paciente. Aos poucos, ela aceita a situação ao levantar questões sobre os aspectos básicos e formas de tratamento”, explica Valois. “Frases como ‘mas minha filha vai ficar bem?’ ajudam na tradução do discurso do médico e para que a narrativa seja encaminhada.”

E no folhetim de Manoel Carlos, a reação foi positiva. Na época, foi atribuído à novela um salto de 20 para 900 nos números do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, um crescimento de 4.400%. O mesmo não ocorreu com A Regra do Jogo e o caso de esclerose múltipla de Rômulo Romero (Alexandre Nero). Para muitos telespectadores, o comportamento dele não se parecia com o dos portadores do distúrbio. “Quando uma doença surge na história, toda a reação dramática precisa se voltar para aquele acontecimento. Caso contrário, não existe razão para falar do assunto. Hoje em dia, a reação do público é imediata.”

É por isso que as produções têm se cercado de profissionais que dão consultoria aos folhetins. No caso de Valois, o cuidado com seus pacientes e a habilidade com as palavras lhe renderam a chance de integrar a equipe na criação dos capítulos de Unidade Básica. A diferença está no foco da série médica. “É uma forma de olhar mais de perto a realidade da profissão. Trouxemos histórias que acontecem na rotina dos médicos e temas a se discutir como HIV e religião, por exemplo.”

Os atores Caco Ciocler e Ana Petta chegaram a conhecer seu local de trabalho. “Um dia, precisei dar a notícia de que uma paciente estava com câncer e eles estavam lá.” É um chance de humanizar os profissionais e rever a saúde no Brasil. “Nessas situações, eles podem errar como qualquer outro profissional. No Brasil, isso se agrava com a falta de estrutura nos postos.”

Para Victor Hugo Valois, quando telenovelas e séries discutem tais temas, há uma grande missão social. “É importante alcançar o equilíbrio sem que os diálogos sejam chatos ou didáticos. No caso de novelas, o público é maior e mais variado, diferente das séries. O que une todos esses formatos é o objetivo de emocionar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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