Marina Lima está longe da melhor forma no seu Acústico MTV

Avessa a releituras, coletâneas e fórmulas “infalíveis”, Marina Lima sucumbiu às pressões da sua gravadora, a EMI, e lançou recentemente o seu Acústico MTV, com direito a DVD e programa na emissora musical. Claro, seus muitos fãs, os nostálgicos dos anos 80 (de todas as idades) e os cantores de karaokê vão adorar: estão lá os maiores sucessos da artista -Virgem, Fullgás, O Chamado, Charme do Mundo, Pra Começar, Uma Noite e 1/2 – todos com uma embalagem sofisticada, arranjos bem cuidados e toda a atmosfera que cerca o Acústico, tábua de salvação de nove entre dez estrelas oitentistas.

O formato também sempre abre espaço para os convidados especiais – no caso o parceiro Alvin L., o lendário Liminha, a cult Fernanda Porto e o mestre Martinho da Vila. E também para versões, como a dispensável porque óbvia Ainda é Cedo, de Renato Russo. Concede-se porém um desconto pela inclusão das inéditas A Não Ser Você, Sugar (ambas com Alvin L.) e Arco de Luz (com Martinho da Vila). A primeira é meio apagada, a segunda é fiel à atual febre dos 80 – parece um rockão dos primórdios do Barão Vermelho -, e a terceira é um samba dos bons, grande dueto com o bamba Martinho da Vila (que sequer é anunciado por Marina).

Mas o problema do Acústico de Marina não é nem o formato, nem o repertório (queira-se ou não, suas músicas são pérolas pop refinadas, charmosas e envolventes). O problema é a voz. Ainda se recuperando da depressão e dos problemas vocais subseqüentes, Marina – que já tinha uma voz “pequeninha” – não está cantando como antes. O que se agrava num registro ao vivo.

A limitação aparece já na primeira faixa, Virgem, com Marina alterando a linda melodia original, economizando sílabas e baixando o tom no refrão. A coisa melhora em O Chamado, por não ter grandes “subidas” de tom. A poderosa Pra Começar (inesquecível tema de abertura da novela Roda de Fogo), que já perde punch sem as guitarras da versão plugada, ficou anêmica com a economia vocal de Marina nos refrões. As backing vocals até ajudam, mas não é a mesma coisa.

Constrangimento

Mas é na sexta faixa, Charme do Mundo, que a coisa fica meio constrangedora. É quando Marina convida Fernanda Porto: enquanto a anfitriã se esfalfa para cantar a própria música, alterando mais uma vez melodia e refrão, a convidada passeia com desenvoltura por todas as notas, com voz cristalina. Destaque para a batida drum?n?bass, marca registrada da multiinstrumentista Fernanda. Em Marina, falta voz até para anunciar o parceiro Liminha, que assume o baixo em algumas músicas.

O grande momento do disco é mesmo o sambão Tom Maior / Arco de Luz com Martinho da Vila, que esbanja malemolência, enquanto Marina se revela uma bela intérprete do gênero. Resta-nos torcer para que a carioca recupere a velha forma. Não que ela precise se esgoelar, mas estamos com saudades da sua sofisticada voz de veludo.

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