Marco Nanini em “A Morte de um Caixeiro-Viajante”

Esqueçam o Marco Nanini atrapalhado que segura as pontas da Grande Família como o impagável Lineu. Hoje à noite você vai ver um Nanini alquebrado, muito menor do que sugere na televisão, que parece carregar toda a angústia do mundo sobre os ombros. O ator é Willy Loman, o protagonista da peça A Morte de um Caixeiro-Viajante, encenação de Felipe Hirsch para o texto do dramaturgo norte-americano Arthur Miller, que tem sessões hoje e amanhã às 20h30 no Teatro Guaíra.

E são precisamente Nanini e Hirsch que transformam a tragédia de Miller num espetáculo comovente e grandioso, “uma verdadeira aula de teatro”, como tem definido a maior parte dos críticos que assistiram à montagem. Sem qualquer desmerecimento para o restante do elenco, que também tem colhido os mais rasgados elogios. Estão ainda na superprodução Juliana Carneiro da Cunha, o curitibano Guilherme Weber, Gabriel Braga Nunes e Francisco Milani, entre outros que somam um elenco de 13 atores. O ambiente concentrado concebido pela cenógrafa Daniela Thomas é outro trunfo da peça.

A ação, que se desenrola ao longo de três horas (com intervalo de 15 minutos), narra as últimas 24 horas de vida de Willy Loman. Mesmo sem ter consciência da morte iminente, depois de ser demitido do emprego de 34 anos, ele faz um mergulho na história de fracassos e frustrações, dele e da família, em contraste com os sonhos de grandeza da juventude. Amarga a decepção com os filhos, que não correponderam ao futuro projetado por ele, e percebe que ele próprio não foi capaz de materializar esses sonhos, tendo consumido uma vida hipócrita e insípida. A única saída digna é a auto-imolação, mas até o seu próprio sacrifício se revela em vão.

Grandiosidade

É precisamente na construção deste homem e desta família que reside a grandiosidade da montagem de Felipe Hirsch. Quem já viu, garante que nada é excessivo: Nanini constrói um Willy Loman gigante na sua pequenez, Juliana Carneiro da Cunha faz uma esposa altiva e corajosa, Gabriel e Guilherme acham o ponto exato dos filhos medianos do caixeiro, e assim por diante. Uma família apagada e infeliz, que por isso mesmo aparece de forma tocante. Destaque ainda para a competente equipe da Sutil Cia. de Teatro, quase todos curitibanos: Rita Murtinho nos figurinos, Beto Bruel na luz, L. A. Ferreira e Rodrigo Barros Homem d’El Rei na trilha sonora. Tudo isso faz de A Morte de Um Caixeiro-Viajante um espetáculo memorável.

***

Hoje e amanhã, às 20h30, no Guairão. Ingressos entre 35 e 20 reais, para quem doar 1kg de alimento não perecível (exceto sal e açúcar), estudantes e maiores de 60 anos. Quem não quiser doar paga o dobro.

Voltar ao topo