Marcelo Nova com e sem Camisa

Há sete anos, o irreverente cantor e compositor Marcelo Nova não grava um disco de inéditas. E não foi em 2002 que ele conseguiu colocar em prática o tão esperado projeto (“tenho material para, pelo menos, três discos”, diz). O ex-vocalista do Camisa de Vênus acaba de lançar um novo CD, Em Ponto de Bala, o primeiro pela Indie Records. Mas, a exemplo dos mais recentes CDs lançados por Nova, este último, mais uma vez, reúne regravações.

Pelo menos, uma novidade Em Ponto de Bala tem: é a primeira coletânea que faz um resumo de toda carreira de Nova, incluindo músicas da época do Camisa, já como cantor-solo e à frente da banda Envergadura Moral, além de composições em parceria com Raul Seixas (Carpinteiro do Universo e Muita Estrela, Pouca Constelação). “A escolha básica do repertório foi da gravadora. Eu apenas sugeri que tivesse algo inédito, até para que não fosse uma coletânea que remetesse muito ao passado”, explica o cantor.

O material inédito em questão são as duas últimas faixas do CD, Bomba-Relógio Ambulante e a versão ao vivo de Eu Não Matei Joana D?Arc. O novo álbum compila ainda outros hits como Só o Fim, Sílvia, Simca Chambord e Beth Morreu, entre outros. Em cada canção, está presente um pouco da trajetória musical do compositor baiano.

Atualmente, Marcelo Nova, que tem 51 anos de idade, comemora mais de duas décadas dedicadas profissionalmente ao rock?n?roll. Mas a relação de completa devoção do cantor para com o gênero começou bem antes, na infância. Ele lembra que, quando era garoto, sua irmã, 12 anos mais velha, dominava a vitrola da casa com discos de bossa nova. Mesmo ainda sem o discernimento de um adulto, o pequeno Marcelo já tinha consciência de que daquele estilo musical ele, definitivamente, não gostava. “Devo ter sido atraído pelo ritmo frenético do rock, que era o contraponto àquela sonoridade plácida que eu ouvia em casa”.

Pedras rolantes

Até tornar o rock seu ganha-pão, muita coisa aconteceu. Dublou muito Little Richard com a cara raquete de tênis do pai, sonhou com a carreira na música embalado pelo rock “inatingível” do Led Zeppelin, conheceu o punk rock das bandas Sex Pistols e The Clash na década de 70 e, nos anos 80, morou no exterior durante três meses. Voltou ao Brasil convencido de que qualquer um poderia fazer rock e que queria formar o próprio grupo. Pouco depois, surgia o polêmico Camisa de Vênus.

A polêmica já começava pelo nome. Cerca de 20 anos atrás, o termo “camisa de Vênus” chegava a ser ofensivo. Seu pai, médico, que não gostava nem um pouco da idéia de ter um filho roqueiro, gostava menos ainda do nome com o qual ele havia batizado sua banda. “Esse nome não tem nenhuma envergadura moral”, dizia. “Achei a expressão sensacional e falei que, se um dia o Camisa acabasse, minha próxima banda se chamaria Envergadura Moral em homenagem a ele”, relembra.

Em 1986, seu pai morreu e, um ano depois, o Camisa de Vênus se desintegrou. Como havia prometido, o compositor lançou o disco Marcelo Nova e a Envergadura Moral, em 88. “Eu estava me preparando para pegar a estrada e tocar no palco, que é o que eu mais gosto. E, por coincidência, Raul Seixas tinha acabado de lançar um disco também”, conta. No segundo show da turnê, o ex-vocalista do Camisa convidou Raulzito a se apresentar com ele. “Ele quebrou um jejum de cinco anos sem fazer shows”. Na época, a parceria recebeu críticas. Nova foi tachado de aproveitador enquanto Raul, de alcoólatra decadente.

“Nenhuma multinacional queria saber de Raul Seixas, os discos dele estavam fora de catálogo, ele estava pesando 50 quilos, sem dentes, era uma situação constrangedora”. Apesar do início conturbado, a dupla acabou realizando uma série de shows pelo País. A parceria rendeu também um disco, A Panela do Diabo. Raul morreu em 89 e, dois anos depois, Marcelo Nova lançou o álbum acústico Blackout, antes mesmo da febre dos unplugged e CDs acústicos.

Há alguns anos seguindo carreira-solo, ele garante que as coisas vão ser diferentes no próximo ano. E diz que não costuma olhar para o passado com saudades. “Sempre dei 100% do que era capaz em todos os projetos que participei. Alguns deles fiquei mais satisfeito com o resultado, outros nem tanto”, relata o compositor, pai da tatuada Penélope, VJ da MTV.”Nunca entrei para compor uma cena, entrei para criar uma cena. E nesse processo de criação, não tenho saudade de nada, estou mais interessado em saber como vai ser meu disco de músicas inéditas. Estou ansioso para vê-lo”.

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